Texto originário do dossiê O Escândalo Envolvendo a Sociedade Torre de Vigia e a ONU,
Assunto: A vossa carta de 02 de Novembro de 2001; meu pedido de desculpas e encerramento.
Prezados Irmãos,
Mais uma vez me dirijo a vocês, agora com resposta à vossa última carta.
Após a recepção da primeira carta redigida pelo irmão “SCC” eu fiquei de fato um pouco aborrecido. Isso deveu-se ao fato, como depois vos escrevi, de eu sentir que a resposta obtida estava cheia de incorreções. Em parte saltavam à vista, tal como a citação errônea da brochura da ONU colocada logo no inicio da vossa carta. Outras incorreções eram mais difíceis de reconhecer. Mas a um leitor atento e desejoso em ver a verdade não puderam, contudo, passar despercebidas. De qualquer forma, o teor global da carta estava errado, por isso eu o questionei. E, indiretamente, deram-me razão ao enviarem a mim e a outros irmãos uma nova versão explicativa, sobre o assunto em questão, que em nada está relacionada com a explicação anteriormente comunicada.
Fui alertado para o fato de a minha segunda carta estar talvez um pouco “dura” na forma como me dirigi ao irmão “SCC”. Lamento ter ferido suscetibilidades. Não era essa a minha intenção. Mas sentimo-nos assim, abalados quando nós somos levados a crer em algo que facilmente é desmascarado como incorreto.
[…]
Na carta de 02 de Novembro mencionas, irmão “SCC”, que ela é a resposta às minhas duas cartas anteriores. Isso não poderá estar certo. A resposta à minha primeira carta foi dada pelo Betel com a data de 08 de Outubro. Seria de esperar nesta nova carta pelo menos um pedido formal de desculpas pelos incômodos causados com a vossa primeira resposta, que se revelou, oficialmente reconhecido por vós, errada. Que incômodos? Bem, como eu reconheci que a carta estava baseada nalgum tipo de equívoco gastei muito tempo e também dinheiro para apurar mais informação. Esforços que, como sabem, poderiam estar mais bem empregados na obra do Reino. Em lugar disso, alimentei mais um pouco as Telecoms e os CTT’s deste mundo. Além do sofrimento pessoal resultante desta controvérsia. Tenho experienciado severa oposição em família por causa destas manifestas discrepâncias nas posições da Sociedade. Houve inclusive um ancião que me acusou de apostasia por causa do meu empenho pela busca da verdade. Enquanto isso, o irmão que redigiu essa carta esteve protegido pelo anonimato de uma sigla (SCC) e eu, que me empenhei consideravelmente, a custo pessoal, zelando pela pureza da adoração de Jeová Deus, sofri as baixas mencionadas. Compreendo o sentimento expresso por uma irmã quanto ao escândalo público ao dizer, “Que vitupério!” E, na vossa segunda carta, reagem como se nunca antes tivessem dito algo em contrário. Chegam mesmo a dizer que “o critério para Associação das ONG’s — pelo menos na sua versão mais recente — contém linguagem que nós não podemos subscrever”. Mas esses critérios são aqueles contidos naquela brochura da ONU da qual citaram na primeira carta e então, em 08 de Outubro, mostraram que ainda não se incomodavam com esses mesmos critérios. É que foram exatamente esses critérios que me levaram a entrar em contacto convosco sobre este assunto! E, na vossa segunda carta, não lamentam os incômodos, não me pedem desculpas, embora fosse visível pela minha correspondência que eu estava bem perturbado. Um proceder mais amoroso tinha sido como bálsamo, irmãos...
Já antes de receber a vossa carta de 02 de Novembro eu tinha conhecimento da justificação “acesso à Biblioteca da ONU”. No contexto de toda esta controvérsia e angústia solicitei ao jornalista Steven Bates, que escreveu diversos artigos no The Guardian, na Grã-Bretanha, que partilhasse mais detalhes comigo. O Sr. Bates foi muito prestável e facultou-me uma carta do betel inglês, com data de 22 de Outubro, que foi a primeira fonte a falar-me na Biblioteca da ONU.
Após a recepção da vossa carta, apercebi-me que diversos irmãos em outros paises também receberam uma carta com um texto quase idêntico. Com efeito, um irmão amigo que trabalha num betel estrangeiro, inquietado com a situação, enviou-me a carta que, com data de 01 de Novembro (um dia antes da vossa 2ª resposta!), foi enviada eletronicamente de Brooklyn a todas as filiais ao redor da terra. Se compararmos a carta que eu recebi de Alcabideche com a carta que vocês receberam de Brooklyn, então verificamos que o segundo e terceiro parágrafo da carta de Brooklyn formam simplesmente o corpo da mensagem que em Portugal transmitiram a mim. Portanto, eu, quanto a essa segunda carta, lamento mais a forma como a escreveram do que o conteúdo da mesma, pois esse é aquele que vos foi dado.
A própria ONU revela publicamente que as condições de acesso à Biblioteca da ONU não são bem aquelas que me foram transmitidas por vós em 02 de Novembro. Ao contrário, até um particular como eu pode solicitar e receber acesso a essa Biblioteca. Apenas desde os recentes atentados em NY está mais difícil obter autorização de entrada. Mas durante todos estes anos não foi necessário um registro como ONG para aceder à Biblioteca ou às informações nela contidas. A ONU até diz: “A fim de tornar os seus documentos e publicações acessíveis em todo o mundo, as Nações Unidas mantêm um sistema de Bibliotecas-Depósito às quais esses documentos e publicações são enviadas”. Ou seja, mesmo não podendo entrar na Biblioteca principal da ONU (o que, contudo, é possível sem o requisito de se associar à ONU e ser acreditado pelo DPI da ONU) ainda existe a alternativa das Bibliotecas Depósito. Só na área de Nova lorque, perto do betel, encontramos CINCO.
[...]
Todos os requisitos de acesso podem ser consultados nas seguintes fontes:
Em alternativa, podem telefonar para a Dra. Dana Loytved (Tel.: 001 212 963 88 22), uma responsável na Biblioteca da ONU, e estou certo que ela terá o prazer de confirmar as minhas informações que aqui vos apresento.
Ainda, irmão “SCC”, a tua carta de 02 de Novembro refere que durante todos estes anos a Sociedade desconhecia os desagradáveis Critérios de Associação (leia-se: compromissos assumidos).
Eu tenho à minha frente exemplos de comunicações publicas da ONU (enviadas para as NGO registradas e não só) que contêm, de forma sucinta, esses critérios (datas 14.02.1992 e 07.03.1992). São várias as publicações da ONU que durante toda a década de 90 revelavam esses critérios e que mostram que o que a sua carta chama de “última versão” dos critérios não sofreu alterações de destaque durante todos esses anos. Assim dificilmente pode ser dito que, citando da vossa carta, “quando compreendemos isso, imediatamente retiramos o nosso registro”. O registro só foi retirado quando posto a descoberto num jornal mundano; os critérios não são novos. Junto remeto uma brochura da ONU, publicada em 1994, que comprova isso. Podem encomendá-la diretamente à Biblioteca da ONU usando o código [ST] DPI/1438. Alguns desses documentos voltam a referir que para permanecer associado à ONU é necessária a entrega de um relatório anual de todas as atividades pró-ONU. Só em 1992 foram desassociadas 14 ONG’s por terem estado inativas quanto às expectativas de cooperação da ONU. A Sociedade nunca foi desassociada por inatividade. Numa mensagem por correio eletrônico, o chefe da Biblioteca na sede da ONU afirma que não está a par das alterações de acesso à Biblioteca em 1991 que a carta do irmão “SCC” diz terem ocorrido. Claro que reproduzo essa carta em anexo.
Ao ler no verão deste ano a Despertai! sobre o Ano Internacional do Voluntariado, de fato reparei na forma destacada em que esse assunto é
tratado e a imagem bem positiva da ONU ai contida. Já na edição de 08. 12. 2000, algo me pareceu ser positivo demais no tratamento concedido à ONU e suas organizações suplementares em comparação ao teor das revistas em toda a década de 70 e 80. Dá agora para perceber a satisfação do DPI durante os últimos anos. Só por isso não desassociaram a Sociedade muito antes.
Quando há algum tempo atrás soube da triste noticia da morte de missionários nossos que viajavam num avião em queda, pertencente às Nações Unidas, poderia ter estranhado essa proximidade. Apesar de eu estar a par do envolvimento e da atividade da Sociedade na chamada AIDAFRIQUE (poucos irmãos estão a par disso, não é?) nunca relacionei isso com uma potencial associação à ONU. Pensando na AIDAFRIQUE como organização de ajuda humanitária, a tua primeira carta, irmão “SCC”, até faz um certo sentido, não é? Afinal nos antigos diretórios da ONU a Sociedade aparece como interessada em “Religião, Direitos Femininos, Desarmamento, Educação, Paz e Segurança Mundial e Direitos Humanos”. Posteriormente, e como a tua primeira carta bem o realçava, figura apenas como organização interessada nos Direitos Humanos. Mas essa explicação agora já não está válida, pois não? E esta nova explicação, da Biblioteca, também não é convincente quando confrontada com o que a própria ONU estabeleceu como regras, não é verdade?
Quando receberam a nova explicação de Brooklyn com a justificação “entrada na Biblioteca”, talvez não estiveram a pesquisar todos estes pormenores. Mas um antigo mentor meu, superintendente viajante, sempre me dizia: ‘Quando aceitamos tudo o que a Organização diz sem o examinar, mostramos confiança na Organização. Mas se mantivermos um espírito atento e examinarmos se as coisas são realmente assim, então mostramos zelo para com Jeová’. Eu aprendi essa lição. Isso é assim porque o nosso desejo é servir a Deus e não a simples homens. Contudo, percebo que o irmão “SCC” se tenha limitado a transmitir-me o que recebeu de Brooklyn. Talvez fez isso seguindo conscientemente ou inconscientemente o que foi dito na Sentinela de Janeiro de 1921 p. 15 (edição alemã): “Por isso cada um que ocupar um cargo irá desempenhar exatamente as tarefas recebidas por aquele [irmão] que está incumbido de dirigir ou instruir, lembrando-se que a responsabilidade está em cima do [irmão] que deu a tarefa ou que tem a supervisão.” Porém todos nós também sabemos que cada um é individualmente responsável pelos seus atos perante o nosso amoroso Pai nos céus. Assim, tomo para mim a responsabilidade mencionada na Sentinela de 15.02.1988 (edição portuguesa) na p.7: “Mas, acima de tudo, devemos querer ser honestos não apenas porque esta é a melhor política ou porque se ordena que sejamos honestos, mas porque amamos o nosso Pai Jeová. Queremos conservar a nossa preciosa relação com Ele e ter a Sua aprovação. Queremos ser honestos também porque dessa forma expressamos amor ao próximo. Assim, dito de maneira simples, ser cristão verdadeiro significa ser honesto.” (o grifo é meu). É essa a razão pela qual eu fiz e faço acompanhar as minhas cartas sempre por todos os documentos comprovativos. Não vejo nenhuma razão bíblica pela qual a Sociedade não deverá também, futuramente, proceder assim com qualquer carta que envie a este respeito a um irmão ou a uma congregação.
Numa Sentinela de 1957, publicada no mês de Maio e em inglês, dizia:
“Em tempo de guerra teocrática é apropriado enganar o inimigo por esconder a verdade. Em todas as alturas é preciso ser muito cauteloso em não divulgar qualquer informação para o inimigo que possa ser usada para impedir a obra de pregação.”
Caros irmãos da filial. Eu não sei se eu e os imensos outros irmãos em todo mundo, que se mostraram preocupados, são considerados o “inimigo” para receberem informações duvidosas. (Gálatas 4:16!!)
O que eu sei é que vos contatei esperançado há dois meses atrás e não esperava encontrar tanta desinformação, meias-verdades e citações em falso como as enumeradas e comprovadas na minha segunda e terceira carta. Em minha casa, e na educação espiritual do meu filho estou sozinho e apenas posso contar com o apoio de Jeová. Com o apoio de Sua organização terrestre - neste assunto - não pude contar. Isso entristece muito profundamente.
Com isso desejo encerrar este assunto. Nada mudou e, porém, tudo está diferente. Desejo levar a minha vida dedicado ao nosso Criador, em paz com os meus irmãos espirituais. Por isso não pretendo continuar esta correspondência postal convosco. Não tenho nem o tempo nem o dinheiro para isso. O que mudou foi o meu fascínio e confiança incondicional em homens que mostraram não estar à altura do apoio que solicitei. Desde o início ofereci o meu número de telefone, mas a filial optou por não usar esse recurso para lidar comigo de forma menos impessoal. Muito bem. Neste momento não desejo nenhum telefonema sobre este triste assunto. Podem escrever-me se o vosso desejo for o de me apresentar um sincero pedido de desculpas pelas confusões causadas, assim como eu me desculpei por outras razões. De resto, penso que este assunto está encerrado. Estou triste.
NOTA: Esta carta não é uma carta de dissociação nem nunca deverá ser interpretada como tal. O assunto aqui tratado não é segredo. Tem sido relatado em diversos jornais e revistas Por isso não encontro razão bíblica para não partilhar esta informação relevante com qualquer pessoa da fé ou do mundo que queira apurar a verdade sobre tudo isto.
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