Na citação abaixo, os colchetes são da Torre de Vigia:
Carl Olof Jonsson transcreve outro texto, que é como segue (o sublinhado foi acrescentado por mim):
Esses documentos são como testemunhas oculares de que houve tal rei, e que reinaram por no mínimo “x” anos. Por exemplo, com base nas citações acima, ficamos sabendo que Nabucodonosor reinou por pelo menos 10 anos e alguns meses, e que Amel-Marduque (Evil-Merodaque na Bíblia) reinou por no mínimo alguns meses.
Agora imagine que todos os meses, por toda a Mesopotâmia, e por todos os anos que durou a era neobabilônica, pessoas façam “registros legais de transações comerciais”. Considerando isso, a lógica diz que deveríamos ficar sabendo o nome de todos os reis desse período e por quantos anos reinaram cada um. Até o momento, pelo exame que fizemos das listas de reis, os únicos nomes que apareceram foram: Nabopolassar, Nabucodonosor, Amel-Marduque, Neriglissar, Labasi-Marduque e Nabonido – nessa ordem. Considerando a soma dos reinados desses reis a partir do 18º ano de Nabucodonosor, obtemos um total de 49 anos, que, adicionado a 538/7 AEC (o primeiro de Ciro), obtemos 587/6 AEC como o ano da destruição de Jerusalém. Será que as tabuinhas econômicas acrescentam mais um nome a essa lista? Será que acrescentam mais anos aos reinados? Ou mais apropriadamente: será que uma combinação desses dois fatores justifica um acréscimo de 20 anos à era neobabilônica?
Em uma nota de rodapé, a Torre de Vigia reconhece:
A Torre de Vigia não deseja relembrar os nomes dos reis nem a duração de cada reinado, além de ter optado por fazer a confissão em uma nota de rodapé e usado fonte tamanho oito. Mas, com base na parte sublinhada, pode-se ver que nenhum outro nome foi acrescentado e nenhum rei reinou mais tempo do que se já sabia. Mas há algo mais a ser dito sobre isso. A Torre de Vigia concorda que “há tabuinhas para todos os anos tradicionalmente atribuídos aos reis neobabilônicos” – mas exatamente quantas? As palavras usadas por ela nos asseguram que há pelo menos uma para cada ano. Voltarei a examinar essa nota ainda neste artigo.
Carl Olof Jonsson foi mais específico:
“Dezenas de milhares” são pelo menos 20 mil. Considerando os 87 anos da era neobabilônica, pode-se deduzir que há cerca de 230 textos para cada ano de reinado, não apenas um ou alguns.
Para enfatizar a insuficiência das crônicas babilônicas, a Torre de Vigia ilustrou o problema com esta gravura de quase meia página.
Associada a essa gravura, estava a seguinte sentença:
Mas a Torre de Vigia não fez nenhuma ilustração para enfatizar o que escreveu em sua nota de rodapé. Como poderia? Novamente vem à baila o caso da sala de tribunal: todo e qualquer agravante deve ser explorado ao máximo, mas qualquer atenuante deve ter sua exposição reduzida ao mínimo.
Bem antes da nota de rodapé, os autores do artigo procuram apontar contradições nos textos cuneiformes. Por exemplo, para o caso de Nabucodonosor, eles escreveram:
O raciocínio da Torre de Vigia é representado na imagem abaixo:
Será que a Bíblia apoia o conceito de que o reinado de Nabucodonosor pode ter se estendido além do 43º ano? Vejamos.
Segundo Jeremias 52: 29, foi no 18º ano de Nabucodonosor que a cidade de Jerusalém foi destruída. Mas Nabucodonosor veio a Jerusalém 10 anos antes, no seu 8º ano, e levou para Babilônia alguns israelitas como prisioneiros; entre esses estava Joaquim, um que era rei de Israel havia apenas três meses. Jeremias também escreveu que, quando Amel-Marduque ascendeu ao trono de Babilônia, Joaquim já estava no seu 37º ano como exilado em Babilônia. Vemos assim uma coincidência entre o 1º ano de Joaquim como rei (que logo se tronou seu primeiro ano de exílio) e o 8º ano de reinado de Nabucodonosor. Considerando que Judá contava os reinados de outono a outono, e sem levar em conta o ano de ascensão, como se fazia em Babilônia, podemos fazer uma representação visual com o objetivo de verificar se é possível estender o reinado de Nabucodonosor além do seu 43º ano. Essa representação visual é mostrada abaixo:
A representação acima foi feita de modo a satisfazer Jeremias 52:31, que é citado a seguir:
Caso o reinado de Nabucodonosor tivesse se estendido além do seu 43º ano, o ano de ascensão do rei Amel-Marduque não coincidiria com o 37º ano do exílio de Joaquim, como exige Jeremias 52:31. Mesmo que se estendesse o reinado de Nabucodonosor até o 44º ano, precisamos lembrar que a declaração de Jeremias ainda relaciona o 12º mês com o 37º ano do exílio de Joaquim.
Assim, se a suposição anterior fosse verdadeira, o ano de ascensão de Amel-Marduque não seria relacionado ao 37º, mas ao 38º ano do exílio de Joaquim. Diante disso, vale lembrar as palavras da Torre de Vigia, conforme citadas anteriormente;
Mas num contexto em que “uma cronologia que se baseia primariamente em evidência secular ou que discorda das Escrituras” parece favorecer a Torre de Vigia, a própria Bíblia foi posta de lado em favor de uma tênue evidência de que determinado rei reinou mais do que se já sabia.
Examinemos agora parte da nota de rodapé citada anteriormente:
A parte sublinhada apresenta um raciocínio plausível, mas têm sérias implicações. Suponhamos que houve de fato setenta anos entre a destruição de Jerusalém e a queda de Babilônia. Ao dizer que “há tabuinhas para todos os anos tradicionalmente atribuídos aos reis neobabilônicos”, mas não ser específica sobre a quantidade, a Torre de Vigia pôde isentar-se de explicar o absurdo resultante de haver cerca de 230 textos datados para um ano qualquer dos reis conhecidos, mas não haver absolutamente nenhum para os vinte anos de sua cronologia. O que poderia justificar esse fato? A Torre de Vigia nunca conjecturou a possibilidade de não ter havido rei algum nesse intervalo, o que poderia ser justificado por uma intensa guerra civil, talvez num período contínuo ou por épocas distintas. Ainda assim, caso tenha havido tais guerras civis, geralmente duas, três ou mais pessoas disputam o trono; quando isso ocorre, o povo geralmente se divide entre os concorrentes e, seria de se supor que, em seus documentos datados, fizessem constar o concorrente de sua preferência, ou talvez o concorrente de sua região. Mas não há tais nomes, nenhum além dos monarcas estabelecidos, algo que atesta perfeitamente reinados consecutivos e sem intervalos. Presumamos então que houve de fato um, dois ou mais reis ainda desconhecidos. O que poderia justificar o fato de que não há registro, em parte alguma, de tais monarcas? Uma hipótese é que, uma vez no poder, a autoridade tenha ordenado que não se fizesse registro algum de sua existência – algo que vai contra toda a lógica, uma vez que conhecemos muito bem a tendência humana no que diz respeito à questão de reconhecimento. Outra possibilidade é que os reis de que temos registros tenham feito uma intensa companha para destruir todos os documentos que comprovasse a existência do rei anterior. Mas então há que se perguntar como conseguiram ser tão eficientes a ponto de eliminar cem por cento de tais registros e, ao mesmo tempo, terem delimitado com perfeição os nomes de reis anteriores – quando a lógica diz que a devassa geralmente dá-se sem distinção de nomes. Presumindo que houve de fato tais reis (ainda desconhecidos), e presumindo que por todos os anos se fez registros datados – a confirmação de que existiram, e que o armazenamento de tais registros tenham se dado do mesmo modo que os demais, então a lógica diz que todos os monarcas estavam em condições iguais quanto à possibilidade de serem descobertos pela arqueologia moderna. Com isso, o fato de não terem ainda sido encontrados é um forte argumento de que 587 AEC é de fato o ano da destruição de Jerusalém.
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