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Contam apenas mentiras e meias-verdades

Uma das acusações mais frequentes é de que os apóstatas contam mentiras e meias-verdades sobre as Testemunhas de Jeová, procurando manchar a reputação delas perante a comunidade. Surpreendentemente, em todos os casos que cito abaixo, não há uma única fonte citada, um livro sequer, um jornal que seja, algo que se possa checar se as acusações dos “apóstatas” são de fato falsas, mentirosas, difamatórias.

Sobre a expressão “projéteis ardentes” de Efésios 6: 16, a revista A Sentinela deu a seguinte explicação:

O que seriam esses “projéteis” atualmente? Talvez graves insultos, mentiras e meias-verdades divulgadas por inimigos e apóstatas para enfraquecer a nossa fé (A Sentinela de 15 de março de 2007, página 29).

Veja outros casos:

Eles [os apóstatas] muitas vezes recorrem a distorções, a meias-verdades e a flagrantes falsidades. Jesus sabia que seus seguidores seriam vítimas de pessoas que diriam “todo tipo de calúnia contra” eles. (Mateus 5:11, NVI) (A Sentinela de 15 de fevereiro de 2004, páginas 16,17). 

O discurso “Proteja-se contra todo tipo de engano” mostrou que é sábio tratarmos como veneno as distorções, as meias verdades e as mentiras descaradas, propagadas por apóstatas (A Sentinela de 15 de janeiro de 2003, página 23)

Cumprindo esta profecia [do “escravo mau” de Mateus 24] de forma notável, os apóstatas estão hoje semeando ativamente mentiras e propaganda em muitos países, até mesmo em cumplicidade com alguns em posição de autoridade nas nações. (A Sentinela de 1º de maio de 1998, página 21).

Os apóstatas divulgam publicações que recorrem a distorções, meias-verdades e rematadas falsidades [...] Algumas das publicações dos apóstatas apresentam falsidades por meio de “conversa suave” e “palavras simuladas”. (A Sentinela de 1º de julho de 1994, página 12).

Em todos esses casos, quais foram as mentiras, as meias-verdades, as distorções contadas pelos “apóstatas”? A única forma de uma Testemunha de Jeová poder checar isso era recorrendo a uma fonte, a um jornal, a um livro, a um documento que constasse uma, ou algumas, das supostas mentiras dos “apóstatas”. A autoridade religiosa, porém, levando em conta que as Testemunhas foram exortadas a não ler matéria “apóstata”, considera que não precisa dizer a elas a fonte das acusações, já que lhes seria inútil. Ainda assim, com esse argumento aparentemente válido, a organização religiosa age de modo muito irresponsável para com toda a comunidade de seus leitores, inclusive os apóstatas. Pois, em não citar fontes que possibilitem checar a autenticidade das acusações, ela deixa pairando uma nuvem negra sobre os “apóstatas”, os quais, impossibilitados de poder contestar qualquer coisa de que se lhes acusam, ficam a depender da boa vontade de outros quanto a considerá-los inocentes ou culpados.

Um exemplo clássico de “nuvem negra” surgiu no anuário de 1997, quando se relatou o caso em que um grupo evangélico exibiu na TV um vídeo considerado apóstata:

Em Yacuiba, Bolívia, um grupo evangélico providenciou que uma rede de TV exibisse um filme que evidentemente foi produzido por apóstatas. Em vista dos maus efeitos desse programa, os anciãos decidiram visitar duas redes de TV e oferecer-se para pagar pela exibição para o público dos vídeos Testemunhas de Jeová — A Organização Que Leva o Nome e A Bíblia — Um Livro de Fatos e Profecias. Depois de ver os vídeos da Sociedade, o proprietário de uma emissora de rádio ficou indignado com as informações deturpadas apresentadas no programa dos apóstatas e ofereceu-se para fazer anúncios gratuitos do congresso de distrito para as Testemunhas de Jeová. A assistência foi bem maior do que a esperada, e muitas pessoas sinceras passaram a fazer perguntas nas visitas das Testemunhas de Jeová na pregação (Anuário das Testemunhas de Jeová de 1997, páginas 61,62).

Sem se dispor a dizer qual o nome do filme “apóstata” e sem sequer dizer quais eram as acusações, o Corpo Governante compraz-se em relatar que, depois de assistir às duas versões, um boliviano “ficou indignado com as informações deturpadas apresentadas no programa dos apóstatas”. Note: a citação desse boliviano parece fazer sentido porque ele assistiu às duas versões, portanto, pode estar fazendo um julgamento justo. O Corpo Governante gostou que seus representantes tenham conseguido fazer que duas redes de TV exibissem a sua versão dos fatos. Curiosamente, ele, ao passo que divulga sua lista de vídeos assistidos por bolivianos, evita citar o título do filme “apóstata”, claramente, com o propósito de que os seus leitores, Testemunhas ou não, tenham dificuldade de assisti-lo e fazer, eles próprios, um julgamento sobre se de fato esse filme continha informações “deturpadas”.

Um caso parecido foi publicado dois anos antes:

Durante uma mesa-redonda na TV, na Alemanha, uns apóstatas inventaram uma porção de mentiras sobre as Testemunhas. Um telespectador reconheceu as histórias inventadas pelos apóstatas e se sentiu induzido a recomeçar seu estudo bíblico com as Testemunhas. Sim, o vitupério público às vezes produz resultados positivos! — Note Filipenses 1:12, 13. (A Sentinela de 1º de abril de 1995, página 29).

Também nesse caso, um único testemunho de um único telespectador é tido como suficiente para atestar como mentirosas as afirmações dos considerados apóstatas. Nenhum leitor, Testemunha ou não, terá a oportunidade de julgar por si quanta verdade, o quanta mentira, contaram os “apóstatas”, mas isso não importa – e importa sim que a palavra da autoridade religiosa fique acima de qualquer investigação, uma vez que, assim como na Bolívia, não se diz absolutamente nada que se possa identificar qual TV e em qual data se exibiu o tal programa.

Em ambos os casos, fica a nuvem negra pairando sobre os considerados apóstatas. Dificilmente se saberá que acusações foram feitas, mas as Testemunhas de Jeová, em sua maioria, tiveram sua convicção mais solidificada – isto é – de que os “apóstatas” são pessoas iníquas e que apenas contam meias-verdades e mentiras.

Porém, há uma acusação que a Torre de Vigia cita e procura refutar. Trata-se da acusação de que a religião das Testemunhas tem destruído muitas famílias e tornado infeliz a vida de muitas outras. Quem leu no primeiro capítulo sobre o modo como os fiéis são exortados a tratar os ex-integrantes, o incentivo explícito para que filhos desprezem os pais, que pais desprezem os filhos, que não permitam que cônjuge desassociado ou dissociado participe do estudo bíblico em família, que pais sejam avaliados se continuam aptos a continuar como pastores caso aceitem de volta ao lar um filho que foi expulso ou deixou a religião, quem leu isso está consciente do efeito destrutivo que isso pode ter em uma família. Mas que resposta a Torre de Vigia fornece a essa acusação?

Como é típico, a Torre de Vigia nunca responde diretamente a perguntas ou acusações; antes, prefere ela própria dizer qual é a acusação, bem como escolhe a extensão e direcionamento da resposta. Determinado esses limites, no seu site JW.ORG foi postado resposta à seguinte pergunta: “As Testemunhas de Jeová dividem ou unem as famílias?” Como era de se esperar, a resposta contem depoimentos de cônjuges que tiveram suas vidas melhoradas depois que um deles se tornou Testemunha de Jeová. Fala também da constante campanha que faz para se ter um casamento bem sucedido e finalmente, em sua conclusão, quando então reconhece que há de fato casamentos arruinados em seu meio, os autores deixam de lado a defesa e partem para a acusação e dizem que os casamentos são arruinados em razão de intolerância religiosa por parte do cônjuge que não é Testemunha de Jeová. Não há absolutamente nenhuma menção à real acusação que se faz à religião, isto é, que muitas famílias são destruídas em razão da política de ostracismo social imposta ao membro familiar que não mais pertence ao grupo.

É deveras surpreendente que essa resposta, muito hipócrita em sua essência, parta justamente de quem acusa seus opositores de contar mentiras e meias-verdades.

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