Pular para o conteúdo principal

Introdução

Nasci numa família católica e segundo os preceitos católicos fui criado. Como era costume da família sempre estar presente nas missas, pode-se dizer que cresci aos pés do padre. Aliás, uma das minhas mais antigas recordações da infância é exatamente na igreja local, em São Lourenço do Piauí, com idade talvez de cinco ou seis anos. Sendo noite, e sem entender absolutamente nada do que se passava, recordo-me de caminhar por entre os fiéis, para um lado e para outro; por fim, assim como em casa, acabava pegando no sono e dormia profundamente – ali mesmo no piso frio.

Minhas primeiras lições bíblicas me foram dadas por minha bisavó, que era muito zelosa dos costumes católicos. Com ela aprendi sobre a existência de Deus, de Jesus Cristo, e também sobre o Diabo. Tendo então cristalizado essas três figuras, vi-me atado a um conceito de extremos: de um lado o bem, e de outro, o mal, a respeito dos quais havia que escolher o lado certo, uma vez que a escolha errada certamente resultaria em condenação eterna, lá nas profundezas do inferno.

Criado assim, não é nenhuma surpresa que a figura de Deus, de uma forma ou de outra, sempre influenciou meus pensamentos, desde a infância à adolescência. Quanto a se influenciou positivamente, isso depende de quanta exatidão havia nas informações que me passaram sobre ele. Independente disso, por volta dos 20 anos, fui contatado pelas Testemunhas de Jeová, e logo estas me convenceram de que muitos ensinos católicos eram falsos. Nem tanto por isso, mas muito mais atraído por suas declarações a respeito de um belo paraíso, que deveria estar às portas, o mais tardar na virada do século, acabei me tornando uma delas; e como tal, os meus próximos 20 anos foram dedicados a essa religião, sendo que minha maior atividade resumia-se em visita aos lares, com o objetivo de denunciar quanta mentira religiosa era contada por católicos e evangélicos. Quanto a se são realmente falsos os ensinamentos católicos, é uma questão que cada um deve decidir; quanto a se as Testemunhas de Jeová contam a verdade, este livro faz algumas ponderações.

Este livro não teria nenhuma razão de existir, caso não fosse uma curiosa política adotada pela liderança das Testemunhas de Jeová: a sonegação de informações a todo aquele considerado não digno de conhecê-las. Entre esses estão pessoas de fora da religião bem como as próprias Testemunhas; no caso destas, quanto mais baixa for a casta, mais se lhes sonegam informações. Em razão disso, todo ano milhares deixam a religião em razão de se sentirem enganadas; ainda outras, embora não a deixe, lamentam profundamente que, por ocasião do aliciamento, apenas informações positivas lhe tenham sido passadas, fazendo com que tomassem uma decisão baseada em meias-verdades.

E é com o objetivo de coibir esse abuso que disponibilizo ao público este livro. Trata-se, em parte, da minha traumática experiência como integrante da religião, mas vai além, contendo também os assuntos que mais são motivos de queixa por parte de milhares que também se sentiram enganados.

Como é de praxe, o livro será tachado de mentiroso por alguns, uma vez que escancara condutas nada louváveis; quanto a isso, estou de sobreaviso. No que se refere ao leitor, se de sua leitura concluir que há nele muitas mentiras, dou-me por satisfeito que tenha concluído isso por si. No que se refere às Testemunhas de Jeová, ele já é mentiroso de berço, porque, segundo lhes orienta a liderança, qualquer livro produzido por dissidentes deve ser descartado como objetável e indigno de qualquer atenção, por ser fruto de corações revoltados e insatisfeitos; em outras palavras, assim como há os avaliados pela capa, este o será pelo nome do autor.

Só o tempo dirá qual resultado terá esse empreendimento literário. Mas qualquer que seja ele, sinto que estou cumprindo um dever para com meu próximo. Seria desnecessário se a liderança das Testemunhas, no que toca a “vender” suas crenças, se portasse moralmente tal qual aquele vendedor de carro que, ao oferecer um veículo usado a um prospectivo comprador, “descreveu as boas características do veículo, bem como seus defeitos, incluindo os que não se podiam ver” (A Sentinela de 15 de junho de 2009, página 20). Mas como assim não é, faço-me uma voz incômoda para que vejam outros o que a mim não foi possível.

(sumário <> voltar <> avançar <> perfil do autor)

Comentários