Desde os seus primórdios, na segunda metade do século XIX, a organização religiosa das Testemunhas de Jeová, na pessoa de seus líderes, sempre esteve às voltas com uma passagem bíblica registrada em Mateus 24: 45. Leiamos:
Como a resposta óbvia parece ser uma pessoa, os seguidores de Russell começaram a tratá-lo como sendo esse “escravo fiel e prudente”. A respeito dessa questão e sobre a opinião de Russell, veja o que se escreveu uns dois meses após sua morte:
Esse conceito foi defendido por cerca de duas décadas após a morte de Russell, até que, em 1927, adotou-se o conceito de que se tratava de um coletivo de pessoas – os ungidos ou escolhidos para ir morar no céu.
Esse foi o conceito que prevaleceu por todo o século XX. Com isso, todas as Testemunhas de Jeová que compunham a “grande multidão”, com esperança de vida eterna na terra, tinham que recorrer aos “ungidos”, a quem, segundo a intepretação, cabia a responsabilidade de fornecer “alimento no tempo apropriado”(o qual se entende por instruções bíblicas disponibilizadas por vários meios, como livros e palestras).
Como prova de que esse grupo seleto tinha legitimidade, a liderança religiosa sempre apresentou a própria história da religião. Como é de conhecimento público, logo após a morte de Russell, Rutherford assumiu a liderança do grupo e deu início a uma campanha religiosa que consistia basicamente em anunciar para breve, exatamente para 1918, o fim de todas as demais religiões. Segundo afirma o Corpo Governante, isso irritou os líderes religiosos da época e os induziu a se servir do clima de guerra para denunciá-los ao governo dos Estados Unidos. O resultado foi que Rutherford e mais sete de seus auxiliares próximos ficaram presos por cerca de um ano sob a acusação de apoiar o inimigo (para mais informações sobre as previsões para 1918, veja o livro Em Busca da Liberdade Cristã, de Raymond Franz, página 159).
Segundo explica o Corpo Governante, a prisão e a consequente libertação deles resultou no cumprimento de diversas profecias, dentre as quais a de Malaquias 3: 2,3:
Segundo explicação da autoridade religiosa, por volta de 1918, em cumprimento da profecia de Malaquias, Jesus Cristo submeteu todas as religiões da época a um teste e somente as Testemunhas de Jeová foram aprovadas – sendo crenças verdadeiramente bíblicas o quesito de avaliação. Como recompensa, Cristo apontou todos os “ungidos” como o representante coletivo dele na terra, aos quais cabia a tarefa de fornecer “alimento no tempo apropriado”, de acordo com Mateus 24: 45. Mas por todo século XX, apesar de haver milhares de ungidos espalhados por todo o mundo, sempre foi um fato que apenas os líderes e seus auxiliares imediatos estavam diretamente envolvidos na preparação do “alimento”. A explicação para essa realidade confusa veio somente em 2013, quando o Corpo Governante decidiu que o “escravo fiel e prudente” se refere a ele próprio, e não a todos os “ungidos” (veja a revista A Sentinela de 15 de Julho de 2013; para saber o conceito de Raymond Franz sobre qual o sentido de Mateus 24; 45,46, veja o seu livro, Em Busca da Liberdade Cristã, páginas 194-203).
Diante do que foi apresentado nos parágrafos anteriores, vê-se que o Corpo Governante é uma autoridade que se impõe. Antes, como um núcleo do “escravo fiel e prudente”; e agora, por decisão dele mesmo, como sendo o próprio “escravo fiel e prudente”.
Mas como sua existência é justificada?
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