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1914: existem fundamentos?

O NÚMERO “1914” está tão intrinsicamente implantado na mente das Testemunhas de Jeová como deve estar, na mente do leitor, as palavras “Cristo” e “Deus”. Desde que alguém ingressa na religião, e mesmo antes do batismo, passa a ler e ouvir sobre 1914 com uma frequência surpreendente. Isso acontece porque 1914 é o alicerce de todo o arcabouço doutrinário que dá à religião um caráter exclusivo. Em adição a isso, os desdobramentos históricos da religião logo após 1914, conforme considerado no segundo capítulo deste livro, são requeridos como provas de que se trata de acontecimentos preditos na Bíblia e que, portanto, a autoridade central das Testemunhas de Jeová foi quem Deus escolheu para representá-Lo na terra. É em razão disso que, com o objetivo de defender a estrutura de autoridade que exerce sobre o rebanho, a Torre de Vigia é tão incisiva na defesa de que 1914 é uma data marcada na profecia. Mas como se chega à data de 1914? 

Conforme será explanado mais detalhadamente nas próximas páginas, foram os “sete tempos” (ou 2520 dias) do capítulo 4 de Daniel que conduziram à compreensão de que 1914 é uma data marcada na profecia. Convertidos em 2520 anos, a Torre de Vigia subtrai desse total o ano que adotou para a destruição de Jerusalém (607 AEC) e obtém 1914 EC. Acontece que, entre os historiadores, parece haver unanimidade de que Jerusalém foi destruída em 587 AEC. Caso os historiadores estejam certos, a data bíblica para a Torre de Vigia seria 1934, não 1914. Como a história da religião, nos anos posteriores a 1934, não dá suporte à ideia de uma prova e subsequente aprovação da religião, como crê que acontece com os anos posteriores a 1914, o Corpo Governante fica impossibilitado de aceitar 1934 como sendo a data bíblica – e isso implica em ele rejeitar a qualquer custo a data de 587 AEC.  

Até onde estou sabendo, Carl Olof Jonsson, um ancião da Suécia, foi a primeira Testemunha de Jeová a reunir prova cabal contra a data de 607 AEC. Ele o fez em fins da década de 1970, não com o fim de demolir a sua religião, mas apenas com o objetivo de alertar o Corpo Governante contra um possível erro de cálculo. O Corpo Governante demonstrou que não estava interessado em reforma cronológica. Sem conseguir fazer que Jonsson desistisse de suas intensões, a autoridade religiosa fez-se prevalecer pelo poder e Jonsson foi excomungado sob a acusação de apostasia. 

Para o proveito de muitos, Jonsson publicou seu trabalho sob o título Os Tempos dos Gentios Reconsiderados. Este capítulo baseia-se principalmente no livro dele. Longe de constituir uma cópia gratuita, o meu trabalho tem como principal objetivo a divulgação da obra de Jonsson, para quem vai todo o crédito pelo meu atual conhecimento de cronologia da era neobabilônica.  

Este capítulo é na verdade o produto de um extenso rascunho que eu fazia à medida que lia o livro de Jonsson. Considerando que texto académico não faz parte de minha leitura habitual, o livro de Jonsson me foi um grande desafio à compreensão – daí porque o extenso rascunho. Então, quando decidi escrever este livro, rapidamente me veio à mente que este rascunho, bem mais trabalhado, podia por si só constituir um capítulo. E aqui o apresento ao leitor. Foi algo que a mim ajudou bastante. Creio que também o ajudará. 

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