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1918 a 1920

Que 1914 havia fracassado, Rutherford não pôde negar; que dizer então? Sem que a maioria de seus associados imediatos soubesse, Rutherford providenciou a escrita de um livro que veio a se intitular O Mistério Consumado. Tendo sido lançado em julho de 1917, o livro procurou assegurar a data de 1914 como estando de fato relacionada com o fim do mundo. Qual foi o raciocínio de Rutherford? Ele recorreu ao evento da destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 EC como sendo paralelo a 1914. Então, assim como aquela guerra só teve fim três anos e meio depois, com a derrota dos últimos judeus refugiados em Massada, assim também o fim dos tempos deveria ser esperado para três anos e meio após o outono de 1914, isto é, para a primavera de 1918

Em confirmação disso, leiamos as palavras de Rutherford (a citação é extraída do livro de Raymond Franz. Os sublinhados de Franz foram substituídos pelos meus): 

A informação apresentada nos comentários sobre Rev. 2:1 prova que a conquista da Judéia só se completou no dia da páscoa, 73 A.D., e, à luz dos textos bíblicos precedentes, provam que a primavera de 1918 trará um espasmo de angústia sobre a cristandade até maior do que o experimentado no outono de 1914. Reexaminem a tabela das Dispensações Paralelas no livro “ESTUDOS DAS ESCRITURAS”, Vol. 2, páginas 246 e 247; mudem o 37 para 40, o 70 para 73 e 1914 para 1918, e cremos que está correto e que se cumprirá “com grande poder e glória”. (Marcos 13:26) [...] Mas se o tempo das dores de parto da Sião nominal (Isa. 66:8) está destinado a ocorrer na primavera de 1918, e se estamos agora a apenas “um dia” (um ano) desse evento mencionado pelo profeta, qual deveria ser nossa expectativa com relação ao sentimento do “pequeno rebanho” neste ínterim? “A dor de parto simbólica na profecia acima é uma referência ao grande Tempo de Aflição — as dores de parto que hão de vir sobre a igreja evangélica nominal, a Grande ‘Babilônia’, da qual alguns são considerados dignos de escapar (Crise de Consciência, página 210 e 211; o trecho do livro O Mistério Consumado é dá página 62

Como se vê, “a primavera de 1918” é mencionada com muita clareza. Rutherford esclarece que o “fim” neste caso se refere basicamente à “igreja Evangélica nominal”, isto é, ao conjunto de religiões que tem em Cristo o seu líder (Atualmente, “Babilônia, a Grande” é entendida pela religião como sendo o conjunto de todas as religiões falsas, ao passo que naquela época o termo era distintivo das religiões consideradas cristãs). Nas páginas 484 e 485 do livro O Mistério Consumado, Rutherford foi mais específico sobre qual seria a extensão do julgamento de Deus sobre as religiões em 1918. As palavras de Rutherford seguem à citação de Ezequiel 24:20-22: 

Ezequiel 24:20 – 22:

Então, eu lhes respondi: Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Dize à casa de Israel: Assim disse o Senhor Deus: Eis que profanarei meu santuário, a excelência da vossa força, o desejo dos vossos olhos, e aquilo de que se apieda a vossa alma; e vossos filhos e vossas filhas, a quem abandonastes, cairão pela espada. [...] E fareis como tenho feito: não encobrireis vossos lábios, nem comereis o pão dos homens. — Tão universais e pavorosas serão as aflições que os mortos jazerão literalmente sem ser enterrados ou lamentados. Não pode haver nenhum pesar pelos mortos em um tempo em que os sobreviventes são sobrepujados por aflições piores do que a morte (Crise de Consciência, páginas 212 e 213)

Servindo-se das palavras de Ezequiel 31: 14-17, Rutherford então prevê que à destruição das religiões cristãs seguir-se-á uma anarquia geral por todas as nações. Estas nações, então enfraquecidas, deveriam, por fim, enfrentar em pouco tempo a própria destruição (veja Crise de Consciência, páginas 214 e 215). Quando isso ocorreria? Rutherford não se furtou em fornecer a data. Recorrendo às palavras de Apocalipse 16: 20, ele definiu: 

E toda ilha fugiu. — Até as repúblicas desaparecerão no outono de 1920. E não se acharam os montes. — Todos os reinos da terra passarão, serão tragados pela anarquia (Crise de Consciência, página 215. O trecho do livro O Mistério Consumado é da página 258).

Conforme foi visto no capítulo anterior, a primavera 1918 chegou e a cristandade não sofreu nenhum dano às mãos do Criador. Pelo contrário, o mundo pôde presenciar nessa estação, não uma carnificina às mãos de Deus, mas à prisão de Rutherford e mais sete associados, sob a acusação de contrariar interesses bélicos dos Estados Unidos. Mas ainda restava 1920. Rutherford, enquanto preso, não teve a alegria de ver a guerra se intensificar e resultar na anarquia geral que ele previra. Pelo contrário, ele certamente foi informado de que as nações em combates deram a guerra por encerrada e tudo se encaminhava para um período de paz. Rutherford e seus associados foram libertos sob fiança em março de 1919 e depois inocentados. Assim, em liberdade, Rutherford pôde ver 1920 chegar e lhe apregoar a imagem de um falso profeta.

Pouco se sabe como se sentiram todos aqueles que levaram a sério as palavras desse novo líder. A julgar pelo que se conhece a respeito dos sentimentos humanos, pode-se deduzir muita coisa. Acrescente a isso o fato de que a maioria deles já vinha de uma grande decepção que fora 1914. A outra parte, se não sentiram a dor de 1914, certamente podia ler a respeito. O que aguardava a este povo? O que mais Rutherford tinha a dizer sobre o tempo do Senhor? 

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