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21/10/2001 – carta-resposta de Daniel de Carvalho

Eis a reposta de Daniel de Carvalho à carta de 8 de Outubro enviada pelo escritório da Torre de Vigia em Portugal.


Prezados Irmãos,

De novo me dirijo a vocês, ciente que vos ocupo precioso tempo no vosso importante trabalho. Apenas o faço por ser o assunto de enorme importância..

Asseguro-vos, em primeiro lugar, o quanto aprecio todo o trabalho que tem sido feito em betel para nós. Talvez o apreço ainda seja maior por eu

próprio ter servido em tempos por algum tempo em betel. Desde então, e

como razões familiares me impedem de ter uma significativa participação na obra do Reino, tenho apoiado sozinho ou em conexão com a minha mãe, de forma anônima ou rastreável, duas congêneres da sociedade assim como diversas congregações. O tesoureiro do betel português, o irmão Augusto está ao par desses fatos. É por isso com redobrada preocupação que vos enviei a minha primeira carta. A resposta que eu obtive ainda me inquietou mais.

Não sei quem é o irmão que usa o código SCC, porém dirijo esta carta a ele e aos outros irmãos responsáveis pela resposta que me foi dada.

Após a descoberta, feita pela minha esposa, das existentes ligações com a ONU, fiquei aguardando a vossa resposta. Para manter a paz familiar (ela a dizer “é verdade” eu a dizer “não é”) fiz uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto. Os resultados dessa pesquisa e, sobretudo, a vossa resposta, renovaram/ampliaram a minha perturbação. Antes de me confirmarem a veracidade da descoberta de minha esposa, já a Sra. Oca da sede das Nações Unidas o tinha feito telefonicamente.

[...]

Apreciei a tentativa do irmão “SCC” explicar o envolvimento entre a Sociedade e a ONU por vias de esforços humanitários. Mas não corresponde à realidade que, como afirma a sua carta, “é necessário que a Sociedade esteja registrada na ONU como organização humanitária.” Basta ver o diretório das NGO para nos apercebermos que muitas outras organizações também não estão registradas (ex. CVP, DRK, int. Red Cross), o que não as impede de prestar ajuda humanitária. Além disso, não se torna evidente porque é que as Testemunhas de Jeová têm estado mais habilitadas para prestar esse tipo de ajuda após o ano 1991 do que antes de estarmos associados ao DPI.

Igualmente essa posição, por si descrita, irmão “SCC”, suscita perguntas pertinentes:

Por que é que a comunidade Internacional dos irmãos não foi informada dessa aliança? Foi feita uma ampla cobertura sobre diversos processos em altas instâncias da justiça, da situação precária em França, da luta pelo reconhecimento como Igreja na RFA. Os relatos recentemente publicados sobre ajudas humanitárias na África - não teriam sido eles (já com uma década de atraso) um excelente veículo para explicar às testemunhas em todo o mundo que passos tinham sido dados?

Quando esse passo é comparado à atuação de Paulo em apelar aos seus direitos civis não nos devemos esquecer do seguinte:

A associação ao DPI das Nações Unidas é um ato voluntário e não é um direito civil. Em tempo algum foi necessário recorrer aos compromissos inerentes dessa associação para “defender e estabelecer as boas novas” – Fil.1:7.

Prova disso é que na pergunta no 5 e no 6 do formulário de adesão preenchido pela Sociedade havia a hipótese de assinalar a opção de atividades religiosas. Mas o diretório da ONU não faz qualquer referência à natureza religiosa da Sociedade, como aliás confirmado na vossa carta.

Enquanto um sindicato de fato pode, como a vossa carta explica, “defender os direitos de um trabalhador”, o compromisso para as NGO associadas é de “difundir informações e mobilizar a opinião publica em apoio da ONU”. Quão diferente é isso do apelo a César feito pelo nosso irmão Paulo no primeiro século, caro irmão “SCC”! Paulo nunca se comprometeu a “consagrar parte de seus programas de informação a promover o conhecimento dos princípios e atividades de César”. Nem ele se comprometeu em preencher um relatório anual de suas atividades pró-César. Pois, por que enquanto todos os publicadores estão incentivados a entregar um relatório mensal de sua atividade em promover os interesses do Reino, a Sociedade, ao preencher e entregar o pedido de adesão, comprometeu-se a entregar anualmente, ao DPI, um relatório de suas atividades pró-ONU. Isso pode ser visto logo no cabeçalho do pedido de adesão.

Se a Sociedade não tinha realmente a intenção de assumir esses compromissos, foi dado conhecimento disso à ONU quando do pedido de adesão? A brochura espanhola anexada diz abertamente que na petição inicial da Sociedade teve de ser mencionado o verdadeiro objetivo para tal associação. Foi aproveitada essa oportunidade para fazer um claro distanciamento dos habituais compromissos assumidos por mais de 1500 NGO? As seis amostras de matéria recentemente publicada sobre a ONU incluíram destemidamente exemplos do livro Revelação ou outras publicações semelhantes? Foi dado um testemunho ou houve conivência?

Num fax, que remeto junto a esta carta, a ONU afirma que a Sociedade se comprometeu a dar algum tipo de apoio. Isso está em claro contraste ao que é dito na carta de Betel que diz que não foi dado “qualquer apoio à ‘fera’ de Revelação”.

Um dos jornais com maior tiragem na Grã-Bretanha publicou um artigo no dia em que a vossa reposta à minha carta estava sendo escrita. Nesse artigo um representante da ONU deu a entender que iriam reavaliar a cooperação entre as duas organizações, intitulando as nossas opiniões sobre a ONU como sendo “um tanto estranhas”. De fato, irmãos, perante o contexto de uma associação voluntária e os compromissos assumidos a palavra indicada é “estranheza”.

Mas, o mais inquietante é o seguinte:

De acordo com as palavras escritas pelo irmão “SCC” em representação da Sociedade, nada de errado há nesta estranha associação. Nesse caso, por favor, expliquem a este vosso irmão, por qual razão apenas UM DIA após essa afirmação a Sociedade pediu à ONU a anulação das ligações assumidas. Preocupa-me, deveras, ver que há falta de consenso bem dentro do seio da Organização. Se tudo estava bem e biblicamente correto, por que voltar atrás? E por que voltar atrás só depois desta relação com a ONU se ter tomado conhecimento público?

Perguntas pertinentes, deveras.

O livro “Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho” [livro de uso exclusivo dos pastores Testemunhas de Jeová, que os orienta como lidar com pecadores] declara na página 112:

“Foi a confissão voluntária, ou a pessoa teve de ser acusada por outros antes de confessar? Foi sua relutância em falar mais devido a forte vergonha do que falta de arrependimento? Acima de tudo, mostrou verdadeiro arrependimento e manifestou desejo sincero de evitar a repetição do erro?”

Perante isso a minha tranquilidade espiritual carece do seguinte:

No espírito de não criar ‘pedras de tropeço’ a Sociedade deveria:

– Publicar a petição de adesão escrita em 1991 com o conhecimento do Corpo Governante (E que está assinada pelo falecido irmão Lloyd Barry).

– Revelar que exemplos de publicações recentes sobre a ONU foram entregues em 1991.

– Publicar todos os relatórios (que segundo o DPI foram sempre entregues) anuais preparados para prestar contas do apoio à ONU.

– Revelar quais as quatro entidades que apoiaram a adesão da Sociedade (conforme solicitado na alínea no 21 do formulário de adesão).

– Explicar, caso a intenção da associação era manter o máximo distanciamento ainda possível da ONU, porque na pergunta no 3 foi dada a resposta “Sim”, quando havia a opção “Não”. (Teria sido possível ser uma NGO acreditada pelo DPI sem nomear um representante da Sociedade perante o DPI. No entanto, foi nomeado o irmão Lloyd Barry do Corpo Governante e após a sua morte o irmão Ciro Aulicino).

– Explicar porque se encontram na revista Despertai! nos números editados na década de 90 muitos artigos que cumprem os critérios estabelecidos pela ONU, quando tal não aconteceu nem quantitativamente nem qualitativamente na década de 80, 70 etc.

– Explicar porque após isso tudo foi solicitada a dissociação do DPI por parte da Sociedade, ao que os responsáveis dentro da ONU responderam com a desassociação da Sociedade em 09.10.2001.

Caro irmão “SCC”, caros irmãos da filial. Na esperança de receber respostas satisfatórias a este episódio muito inquietante na história do povo de Jeová, eu remeto-vos esta carta, aproveitando a oportunidade para vos enviar o meu amor cristão.

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