No mesmo dia em que foi encaminhada essa resposta a Daniel de Carvalho, o jornal britânico The Guardian publicava uma reportagem expondo exatamente essa acusação, isto é, que a Sociedade Torre de Vigia estava filiada à ONU, apesar de estar a combatê-la em sua literatura.
No momento em que faço esta segunda edição, em dezembro de 2022, a matéria ainda pode ser lida na página do The Guardian.
O artigo foi elaborado pelo jornalista Stephen Bates, correspondente de assuntos religiosos.
Esta é a tradução, conforme consta no site Paralelos & Perpendiculares:
As Nações Unidas estão sendo solicitadas a investigar porque foi autorizado dar o status de associada às Testemunhas de Jeová, a seita cristã americana, fundamentalista, que retrata a ONU como a fera escarlate predita no livro de Revelação (Apocalipse).
Dissidentes da Organização, com cerca de 6 milhões de membros e que tem 130.000 seguidores no Reino Unido, acusaram de hipocrisia os anciãos do Corpo Governante por aceitarem secretamente vínculos com uma organização à qual eles continuam a denunciar em termos apocalípticos.
A própria ONU admitiu ontem ter se surpreendido que a seita, cujo nome formal é Watchtower Bible and Tract Society of New York (WTBTS), tenha sido incluída nos últimos dez anos na sua lista de organizações não governamentais.
Uma ex-Testemunha disse: “Surgiu uma óbvia incoerência entre o retrato da ONU como uma organização do mal, frequentemente pintado pela WTBTS, enquanto que, por baixo do pano, ela tenta obter o favor dessa organização. Se os seus membros individuais descobrirem qualquer vínculo formal eles ficarão arrasados.
“Nenhum esforço de imaginação consegue tornar a WTBS compartilhadora dos ideais da carta das Nações Unidas a menos que se suponha que a destruição da ONU por Deus esteja em harmonia com aquela carta”.
As Testemunhas, mas frequentemente encontradas pelos não-membros nas suas peregrinações de conversão, de porta em porta, já enfrentaram antes acusações de má fé.
Tais acusações são mais acirradas quanto à insistência da hierarquia em proibir que os membros não aceitem transfusões de sangue e quanto às acusações de abuso de crianças nos EUA, por parte de seus membros, e que são encobertos.
Os seguidores que criticam os líderes das Testemunhas ou que questionam as suas decisões, são sumariamente “desassociados”, o que significa que todos os antigos amigos, inclusive seus familiares, devem evita-los.
Uma decisão obscura e mal divulgada pela hierarquia de Nova York no ano passado, modificando a proibição de transfusões sob a alegação de que Deus revelou-lhes que a transfusão de certos componentes de sangue podem ser aceitáveis, desde que mais tarde sujeita a arrependimento, chegou tarde para centenas de seguidores que morreram porque recusaram sangue.
No caso de abuso de crianças, a hierarquia insiste em ter duas testemunhas independentes – uma exigência quase impossível de ser atendida – antes das acusações serem investigadas.
Já há cerca de 80 anos, a Sociedade Torre de Vigia tem denunciado a ONU e sua predecessora, a Liga das Nações, acreditando que ela seja um império mundial da religião falsa, predito no livro de Revelação.
Uma publicação recente, escrita já dentro do período em que a organização obteve seu reconhecimento, descreve a ONU como “uma coisa repugnante perante Deus e seu povo”.
Num documento interno, a WTBTS descreve sua política como “estratégia de guerra teocrática”. Ele alega “em época de guerra espiritual, é apropriado despistar o inimigo escondendo a verdade. Isso é feito altruisticamente, não machuca ninguém, pelo contrário, produz muito bem”.
Ser reconhecida como uma ONG das Nações Unidas dá status, mas não o garante.
Para se qualificar, uma organização precisa mostrar que compartilha dos ideais da carta, opera numa base não lucrativa, “demostra interesse nos programas da Nações Unidas e demostra habilidade para atingir audiências grandes ou especializadas” e tem o compromisso e os meios para conduzir programas efetivos de informação sobre as atividades das Nações Unidas.
Testemunhas dissidentes acreditam que a associação, que não foi informada aos seus seguidores, ocorreu para aumentar a respeitabilidade do culto perante governos céticos, como o da França, que se recusou a reconhecê-la.
Paul Gilles, porta voz das Testemunhas na Inglaterra, disse: “Não somos hostis aos governos e se estamos participando da divulgação dos programas das Nações Unidas, vamos continuar a fazê-lo”.
“Há bons e maus governos, assim como há bons e maus políticos. Acreditamos no que diz o livro de Revelação, mas não tentamos ativamente mudar o sistema político”.
Um porta voz das Nações Unidas comentou: “Acho que nós não conhecemos a sua atitude que parece realmente esquisita”.
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