Pular para o conteúdo principal

Listas de reis

Chegou aos ouvidos de Barbour que Ptolomeu, um astrônomo do início da era cristã, fornecia informações que apontavam para 536/5 AEC como sendo o primeiro ano de Ciro como rei de Babilônia. Quais eram essas informações? 

Trata-se de uma lista de reis com a duração de seus respectivos reinados, com o detalhe de que, nome após nome, a soma de todos os reinados também é fornecida. Finaliza a lista o nome do imperador romano Antônio Pio (138-161EC), ao passo que é encabeçada por um rei da Babilônia de nome Nabonassar.  Veja partes dessa lista abaixo. O meio da lista nos apresenta os reis que reinaram um pouco antes e até o fim da era correspondente aos supostos 70 anos da Torre de Vigia (veja lista completa no livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, página 111). 

Em razão de que a época do reinado de Antônio Pio está plenamente estabelecida, e de forma independente, ela pode servir de ponto de partida para a lista de reis fornecida por Ptolomeu. Visualmente, veja como isto se dá: 


Em que isso nos auxilia na pesquisa sobre em que ano foi destruída a cidade de Jerusalém? Vejamos: 

A Bíblia afirma que Nabucodonosor destruiu Jerusalém no seu 18º ano de reinado (Jeremias 32:1, 52: 29), bem como nos afirma que Ciro, ao conquistar Babilônia, possibilitou a que os judeus prisioneiros voltassem a Jerusalém. A Torre de Vigia requer que 70 anos sejam inseridos entre esses dois eventos.  Por esse raciocínio, deveríamos concluir que a soma dos reinados dos reis que reinaram em Babilônia nesse intervalo seja de exatamente 70 anos.  Mas a soma dos reinados de Nabucodonosor a Nabonido é de apenas 66 anos e, visto que somos obrigados a subtrair pelo menos 17 anos do reinado de Nabucodonosor, restam apenas 49 anos para o intervalo correspondente. A correspondência ano-a-ano com os reis listados por Ptolomeu põe o primeiro ano de Ciro em 538 AEC, conforme imagem abaixo. Então, somando 49 a 538, obtemos 587 AEC como sendo o ano da destruição de Jerusalém – a data que a Torre de Vigia se recusa a aceitar. 


Beroso é um autor do terceiro século AEC. Declarações atribuídas a ele também fornecem a duração dos reinados de reis da antiga Babilônia. Em 2011, no primeiro artigo em defesa da cronologia, à página 29 daquela revista, o Corpo Governante divulga uma tabela (mostrada abaixo) com informações básicas sobre Ptolomeu e outros, incluindo Beroso. A pergunta no topo da imagem não nos deixa em dúvida sobre qual é a intenção do Corpo Governante. Ao apontar para as discrepâncias entre os dados fornecidos, a autoridade religiosa deseja nos convencer que as informações podem ser falsas. Suponhamos que sejam; que justificativa há para os números fornecidos por Ptolomeu e Beroso diferirem em apenas 9 meses? O Corpo Governante apresenta uma: 


Evidentemente, Ptolomeu baseou suas informações históricas em fontes que remontam ao período selêucida, que começou mais de 250 anos depois de Ciro capturar Babilônia. Portanto, não surpreende que as cifras de Ptolomeu concordem com as de Beroso, um sacerdote babilônio do período selêucida (Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 1, página  611).

Continuando com o objetivo de lançar dúvidas sobre a lista de reis apresentada por Ptolomeu, a Torre de Vigia compara-a com a lista de reis de Uruk (veja abaixo), uma lista que inclui reis da Assíria e Babilônia e chega a abranger até reis da Grécia antiga, o que coloca sua elaboração numa época posterior à era neobabilônica). 


A  Torre de Vigia continua:

Note que Ptolomeu alista apenas quatro reis babilônios entre Candalanu e Nabonido. No entanto, a lista de reis de Uruk — parte do registro cuneiforme — revela que sete reis governaram nesse intervalo. Será que o reinado deles foi breve e insignificante? Um deles, de acordo com tabuinhas econômicas cuneiformes, durou sete anos (A Sentinela de 1º de outubro de 2011, páginas 30, 31).

Pelo modo como se expressa, a Torre de Vigia parece atribuir um valor incontestável à lista de reis de Uruk. Ela não percebe que, ao fazer isso, apenas confirma a validade da lista de reis que governaram em Babilônia, conforme apresentada por Ptolomeu e Beroso. O nome Labasi-Marduque está ausente na lista de Ptolomeu, mas consta na lista de Beroso, e, conforme ela reconhece na nota 8 (página 31 da revista A Sentinela de 1º de outubro de 2011), os “sete anos” se referem a Sin-Sar-Ichcun, um rei fora da lista dos que reinaram durante os supostos “setenta anos”. E embora a Torre de Vigia omita, a lista de reis de Uruk fornece também a duração dos reinados, que é mostrado abaixo, lado a lado com as listas de Ptolomeu e Beroso: 


No comentário que faz sobre a lista de reis de Uruk, a Torre de Vigia chama a atenção para os nomes ausentes da lista de Ptolomeu ao passo que omite a duração dos reinados, conforme fornecida pela lista de reis de Uruk. Ao adotar esse procedimento, ela se comporta como se estivesse num tribunal desempenhando um papel de acusação. Com isso, considera que é apropriado apresentar qualquer fato que possa servir de agravante ao crime do réu – Ptolomeu –, ao passo que qualquer atenuante deve ser omitido. Esse expediente pode ser válido numa sala de tribunal, quando interesses genuinamente humanos estão em jogo; mas quando alguém o utiliza para defender a Bíblia, duas coisas devem ser consideradas: ou a Bíblia é um livro inconsistente, ou estar-se a defender uma interpretação errada. 

Os nomes ausentes da lista de Ptolomeu é de fato um ponto a se considerar, mas deve ser notado que a lista de Uruk confirma todos os nomes citados por Ptolomeu para o período dos supostos “setenta anos”– e se acrescenta Labasi-Marduque, apenas confirma a lista de Beroso. Segundo a lista de Uruk, a soma da duração dos reinados dos reis do período entre a destruição de Jerusalém e a queda de Babilônia é de 49 anos, muito longe dos “setenta anos” requeridos pela Torre de Vigia. Essa é a razão de ela dizer nas entrelinhas que, assim como Ptolomeu omitiu reis anteriores aos “setenta anos”, ele pode também ter omitido outros reis da época posterior à destruição de Jerusalém (além de, é claro, Labasi-Marduque). A duração dos mandatos desses reis presumidos, mas ainda não encontrados, portanto, preencheria o vazio de cerca de 20 anos de sua cronologia. 




Comentários