No primeiro artigo em defesa de sua cronologia, a Torre de Vigia concentrou-se em defender sua interpretação bíblica sobre os “setenta anos” e, ao mesmo tempo, procurou desacreditar as listas de reis, principalmente a de Ptolomeu. Assim, depois de apresentar seus argumentos “bíblicos” em defesa dos “setenta anos”, ela acrescenta:
Mas se as evidências das Escrituras inspiradas apontam claramente para 607 AEC como a data da destruição de Jerusalém, por que muitas autoridades defendem 587 AEC? Elas se baseiam em duas fontes — os escritos de historiadores clássicos e o Canon de Ptolomeu. Será que essas fontes são mais confiáveis do que as Escrituras? Vejamos (A Sentinela de 1 de outubro de 2011, páginas 28 e 29).
Os autores do artigo sabem que “os escritos de historiadores clássicos e o Canon de Ptolomeu” não são as únicas fontes que as “autoridades” usam em defesa da data de 587 AEC. Prova de que estão conscientes disso pode ser visto na declaração que deram na revista de Novembro, página 22:
A maioria dos eruditos diz que a destruição de Jerusalém ocorreu em 587 AEC. Isso só deixaria um período de 50 anos de exılio. Por que chegaram a essa conclusão? Eles baseiam seus cálculos em antigos documentos cuneiformes que contem detalhes sobre Nabucodonosor II e seus sucessores. Muitos desses documentos foram escritos por homens que viveram durante a época da destruição de Jerusalém, ou perto dessa época.
Depois de reconhecerem que há testemunhas oculares, eles lançam a pergunta desafiadora:
Mas até que ponto esses cálculos que apontam para 587 AEC são exatos? O que esses documentos realmente mostram?
Para responder a essas perguntas, vejamos três tipos de documentos a que os eruditos muitas vezes recorrem: (1) As crônicas babilônicas, (2) as tabuinhas econômicas e (3) as tabuinhas astronômicas (revista supracitada, página 22).
Então, depois de dizer que crônicas são documentos cuneiformes “que registram eventos importantes da história babilônica”, a revista continua:
O que os eruditos dizem? R. H. Sack, uma destacada autoridade em documentos cuneiformes, declara que as crônicas fornecem um registro incompleto de eventos importantes. Ele escreveu que os historiadores precisam recorrer a “fontes secundárias... na esperança de determinar o que realmente aconteceu” (revista supracitada, página 23).
Pelo que sei, nenhuma “autoridade” nega que muitos documentos antigos são incompletos. Muitos desses foram escavados diretamente por arqueólogos, mas outros foram encontrados por pessoas comuns e percorreram um longo caminho até chegar às mãos de um perito. Com isso, nem todos que os manusearam podem ter tido os cuidados necessários, o que pode ter danificado partes importantes de tais documentos. Mas, quanto a isso, sabe-se que muitos fatos da história foram registrados por diversas pessoas da época, de modo que dados ausentes em um documento podem estar presentes em diversos outros e por fim sabe-se o quadro geral do evento. Isso com certeza não é desconhecido dos autores do artigo, mas a generalização, como se vê, serve bem ao propósito da autoridade religiosa.
Pior que isso é o fato de fazerem parecer que foi Sack que fez tal generalização. Notem que é inserido reticências nas palavras de Sack. O que exatamente foi ocultado? Embora os autores tenham tido o cuidado de não citar a fonte, ela foi identificada como sendo um artigo publicado no ano de 1978 em Zeitschrift für Assyriologie und Vorderasiatische Archäologie. E o que Sack diz exatamente? (o sublinhado é de Jonsson e sinaliza a parte que é ocultada no artigo da Torre de Vigia):
Como resultado, o historiador, por bem ou por mal, é obrigado a examinar as fontes secundárias hebraicas, gregas e latinas (bem como as tabuinhas comerciais cuneiformes datadas) na esperança de determinar o que realmente aconteceu durante este período (Contra-argumentação de Jonsson à revista de Novembro, páginas 2,3).
Como se pode ver, embora Sack reconheça a insuficiência de documentos, ele claramente diz que há fontes “datadas” que podem sanar o problema. A parte final da citação indica que Sack falava de um período específico, que Jonsson identificou como sendo de 594-557 AEC. Isto se dá porque, para anos posteriores e anteriores, as crônicas fornecem um quadro razoável dos eventos históricos. Finalmente, segundo Jonsson, a autoridade religiosa omitiu dos leitores que Sack não falava de toda a Mesopotâmia, mas apenas da parte sul dessa região. Tudo isso tem um nome: generalização.
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