A Organização das Nações Unidas (ONU) surgiu em 1945 como uma associação de nações, cujos objetivos são apropriadamente resumidos pela Torre de Vigia:
Manter a paz e a segurança internacionais; suprimir atos de agressão que ameacem a paz mundial; incentivar relações amisosas entre as nações; proteger as liberdades fundamentais de todos os povos, sem discriminação de raça, sexo, língua ou religião; e alcançar cooperação internacional para a solução de problemas de caráter econômico, social e cultural (A Sentinela de 1º de outubro de 1995, página 3).
Mas uma associação de nações com o mesmo objetivo surgiu bem antes, por volta de 1920, e se chamava Liga das Nações. Tanto a respeito da Liga das Nações, bem como a respeito das Nações Unidas, a Torre de Vigia tem o mesmo conceito, isto é, que se trata do cumprimento da profecia registrada no capítulo 17 de Apocalipse (mais especificamente, uma fera sobre a qual monta uma prostituta; essa prostituta é entendida pela Torre de Vigia como sendo o conjunto de todas as religiões falsas). Essa profecia é assim descrita:
E ele me levou no poder do espírito para um ermo. E avistei uma mulher sentada numa fera cor de escarlate, que estava cheia de nomes blasfemos e que tinha sete cabeças e dez chifres. E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlate, e estava adornada de ouro, e de pedra preciosa, e de pérolas, e tinha na sua mão um copo de ouro cheio de coisas repugnantes e das coisas impuras da sua fornicação. E na sua testa havia escrito um nome, um mistério: “Babilônia, a Grande, a mãe das meretrizes e das coisas repugnantes da terra.” E eu vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus. Pois bem, ao avistá-la, fiquei admirado com grande espanto. E o anjo disse-me, assim: “Por que te admiras? Eu te direi o mistério da mulher e da fera que a carrega, que tem as sete cabeças e os dez chifres: A fera que viste era, mas não é, contudo, está para ascender do abismo, e há de ir para a destruição. E quando virem que a fera era, mas não é, contudo estará presente, os que moram na terra se admirarão grandemente, mas os nomes deles não foram inscritos no rolo da vida desde a fundação do mundo. (Apocalipse 17:3-8).
A parte sublinhada destaca a fera que, segundo a concepção da Torre de Vigia, veio a se cumprir com o surgimento da Liga das Nações. O fracasso da Liga das Nações em evitar a Segunda Guerra Mundial é entendido como sendo citado pela expressão “era, mas não é”; e, assim como se diz que essa fera havia de “ascender do abismo”, assim, em cumprimento, surgiu as Nações Unidas.
Desde o surgimento da Liga das Nações, por volta de 1920, a Torre de Vigia procurou fazer um contraste entre o papel dessa entidade política e o papel do Cristo como rei do Reino de Deus. Procurou destacar que, ao passo que ela, a Torre de Vigia, estava do lado de Cristo, aclamando-o como o verdadeiro promotor da paz, as demais religiões, tal qual uma prostituta, estavam a apoiar a Liga das Nações, cavalgando-a, confiando que ela era a expressão do Reino de Deus conforme pregado por Cristo. Prova de que detinha esse conceito pode ser visto na citação abaixo, em inglês, da revista A Sentinela de 1º de outubro de 1919, página 298.
A seguir, a tradução feita pela própria Torre de Vigia.
“É certo, porém, que o desagrado do Senhor recairá sobre a Liga, porque os clérigos — católicos e protestantes — que afirmam ser representantes de Deus, abandonaram o plano Dele e endossaram a Liga das Nações aclamando-a como expressão política do reino de Cristo na terra.” — The Watch Tower de 1.° de outubro de 1919, páginas 292b, 298a (“Caiu Babilônia, a Grande!” O Reino de Deus já Domina!, página 98, publicado em português em 1972).
Com o surgimento das Nações Unidas em 1945, a Torre de Vigia continuou escancarando o apoio religioso recebido por essa entidade política.
Em 1945, o Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América declarou: “Estamos determinados a trabalhar pela contínua expansão das funções curativas e criativas da Organização das Nações Unidas.” Em 1965, o papa Paulo VI declarou que ele viu na organização “o reflexo do amoroso e transcendente projeto de Deus para o progresso da família humana na terra — um reflexo em que Nós vemos a mensagem do Evangelho, que é celestial, tornar-se terrestre”. Sem dúvida, os líderes religiosos tornaram aquela organização “cheia de nomes blasfemos”. — Revelação 17:3; compare com Mateus 24:15; Marcos 13:14 (A Sentinela de 1º de outubro de 1985, páginas 15, 16).
Em conformidade com esse conceito, a Torre de Vigia prega a neutralidade política por parte de todas as Testemunhas de Jeová individualmente. Para isso, recorre a declarações bíblicas como as alistadas abaixo:
- Jesus, portanto, sabendo que estavam para vir e apoderar-se dele para o fazerem rei, retirou-se novamente para o monte, sozinho – João 6: 15.
- Não fazem parte do mundo, assim como eu não faço parte do mundo – João 17: 16.
- Jesus respondeu: “Meu reino não faz parte deste mundo. Se o meu reino fizesse parte deste mundo, meus assistentes teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, assim como é, o meu reino não é desta fonte.” – João 18: 36.
- A forma de adoração que é pura e imaculada do ponto de vista de nosso Deus e Pai é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas na sua tribulação, e manter-se sem mancha do mundo – Tiago 1: 27.
- Adúlteras, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Portanto, todo aquele que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. – Tiago 4: 4.
Em prol da conservação de uma boa imagem perante a opinião pública, a Torre de Vigia evita dizer que fazer parte da política, seja como candidato, seja votando em candidatos, constitui pecado pelos quais ninguém pode ser aceito, ou permanecer, como Testemunha de Jeová. No entanto, em sua literatura, é possível ler nas entrelinhas que é exatamente assim.
A Sentinela de 1º de maio de 2004, páginas 6 e 7:
Certo político italiano, que fora membro da Ação Católica, uma organização controlada pela Igreja, disse: “Entrei na política achando que a pessoa devia contribuir ativamente para o desenvolvimento político e social da comunidade.” Depois de renunciar como prefeito da cidade, a fim de pregar o Reino de Deus como Testemunha de Jeová, ele explicou o motivo de os esforços de pessoas sinceras na política fracassarem. “O mundo é o que é, não porque pessoas decentes não tenham tentado melhorar as condições sociais, mas, antes, porque os esforços sinceros de poucos foram frustrados pela iniqüidade de muitos.”
Anuário das Testemunhas de Jeová de 2001, página 60.
Primeiro, sua consciência o motivou a deixar a caça, um esporte de que gostava demais. Depois, ao chegar a entender a questão da neutralidade cristã, decidiu renunciar à sua posição altamente respeitada como prefeito de um município, um cargo que havia ocupado por 15 anos. Embora fosse pressionado a reconsiderar sua renúncia, o conselho em Tiago 4:4 o fortaleceu para recusar o cargo.
A Sentinela de 1º de maio de 2012, página 7:
Então, o que acontecerá com os governos humanos? A Bíblia diz que os governos “de toda a terra habitada” serão destruídos. (Revelação 16:14; 19:19-21) Se uma pessoa realmente acredita que o Reino de Deus está prestes a acabar com todos os sistemas políticos, seria lógico esperar que ela não os apoiasse. Afinal, se desse seu apoio a esses governos fadados ao fracasso, ela estaria na verdade se voltando contra Deus.
A conclusão que se tira dessas declarações é que nenhuma pessoa é aceita como Testemunha enquanto estiver de alguma forma envolvida na política, bem como nenhuma Testemunha permanecerá como tal se entrar na política, seja como candidato ou votando em candidatos (Veja o procedimento estabelecido para se lidar com este último caso).
A maioria das Testemunhas de Jeová compreende que é exatamente assim, bem como tem certeza que sua liderança age de acordo. Mas a respeito desse assunto, muitas Testemunhas de Jeová fizeram uma descoberta desagradável.
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