Toda Testemunha de Jeová sabe que periodicamente o Corpo Governante revisa algumas doutrinas. No capitulo 3 deste livro isso ficou bem claro, pois o sentido da palavra “geração” foi revisado várias vezes. Assim como esse, diversos outros ensinos já passaram por revisão e todas essas revisões são justificadas com base na seguinte declaração de Provérbios:
Mas a vereda dos justos é como a brilhante luz da manhã, que clareia mais e mais até a plena luz do dia (Provérbios 4: 18).
Em outras palavras, a autoridade religiosa entende que o conhecimento que se tem da Bíblia aumenta gradualmente, conforme Deus vai dando aos seus servos a capacidade de entender Sua Palavra;. Isso é, em resumo, o que o leitor lerá abaixo, que é a justificativa do próprio Corpo Governante:
Como Jeová conduz seu povo
Aqueles que compõem a única genuína organização cristã hoje não recebem revelações angélicas nem inspiração divina. Mas contam com as inspiradas Escrituras Sagradas, que contêm revelações dos pensamentos e da vontade de Deus. Como organização e individualmente, têm de aceitar a Bíblia como verdade divina, estudá-la meticulosamente e deixar que ela opere neles. (1 Tes. 2:13) Mas como chegam ao entendimento correto da Palavra de Deus?
A própria Bíblia diz: “Não pertencem a Deus as interpretações?” (Gên. 40:8) Se no seu estudo das Escrituras determinada passagem é difícil de entender, têm de procurar outras passagens inspiradas que elucidem o assunto. Assim, deixam que a Bíblia interprete a si mesma, e à base disso procuram entender o “modelo” da verdade apresentado na Palavra de Deus. (2 Tim. 1:13) Jeová os conduz ou guia a esse entendimento por meio de seu espírito santo. Mas, para ter a orientação desse espírito, eles têm de cultivar seus frutos, não o contristar nem trabalhar contra ele, e ser sensíveis a suas indicações. (Gál. 5:22, 23, 25; Efé. 4:30) Ademais, aplicando zelosamente o que aprendem, edificam sua fé, como base para obterem entendimento cada vez mais claro de como têm de fazer a vontade de Deus no mundo de que não fazem parte. — Luc. 17:5; Fil. 1:9, 10.
Jeová sempre conduziu seu povo a um entendimento mais claro de sua vontade. (Sal. 43:3) Sua maneira de guiá-lo pode ser ilustrada assim: se a pessoa ficou numa sala escura por muito tempo, não é melhor que seja exposta à luz gradativamente? Jeová tem exposto seu povo à luz da verdade de maneira similar; tem-lhe dado esclarecimento progressivamente. (Compare com João 16:12, 13.) Tem sido como diz o provérbio: “A vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais até o dia estar firmemente estabelecido.” — Pro. 4:18.
Os tratos de Jeová com seus servos escolhidos nos tempos bíblicos confirmam que o entendimento claro de sua vontade e propósitos muitas vezes vem gradativamente. Assim, Abraão não entendeu plenamente como se desenrolaria o propósito de Jeová com relação ao “descendente [lit.: semente]”. (Gên. 12:1-3, 7; 15:2-4; compare com Hebreus 11:8.) Daniel não compreendeu o desenrolar final das profecias que registrou. (Dan. 12:8, 9) Jesus, quando esteve na Terra, admitiu que não sabia o dia e a hora em que o atual sistema acabará. (Mat. 24:36) Os apóstolos a princípio não entenderam que o Reino de Jesus seria celestial, que não seria estabelecido no primeiro século e que até gentios poderiam herdá-lo. — Luc. 19:11; Atos 1:6, 7; 10:9-16, 34, 35; 2 Tim. 4:18; Rev. 5:9, 10.
Não nos deve surpreender que também nos tempos modernos Jeová muitas vezes tenha conduzido seu povo como organização progressiva, gradativamente esclarecendo-lhes verdades bíblicas. Não são as verdades em si que mudam. A verdade permanece a verdade. A vontade e o propósito de Jeová apresentados na Bíblia permanecem inalterados. (Isa. 46:10) Mas o entendimento do povo de Deus sobre essas verdades fica progressivamente mais claro “no tempo apropriado”, no tempo devido de Jeová. (Mat. 24:45; compare com Daniel 12:4, 9.) Às vezes, devido a erros humanos ou a zelo mal-orientado, seu ponto de vista talvez precise de ajustes.
Por exemplo, em várias ocasiões na história moderna das Testemunhas de Jeová seu zelo e entusiasmo pela vindicação da soberania de Jeová causaram expectativas prematuras sobre quando viria o fim do sistema iníquo de Satanás. (Eze. 38:21-23) Mas Jeová não revelou de antemão o momento exato. (Atos 1:7) Assim, o povo de Jeová teve de ajustar seus conceitos nesse respeito.
Esses ajustes de ponto de vista não significam que o propósito de Deus tenha mudado. Nem sugerem que o fim deste sistema esteja necessariamente muito distante. Ao contrário, o cumprimento de profecias bíblicas a respeito da “terminação do sistema de coisas” confirma a proximidade do fim. (Mat. 24:3) Bem, será que as Testemunhas de Jeová já terem tido expectativas prematuras significa que não são dirigidas por Deus? Não, como tampouco a pergunta dos discípulos sobre a iminência do Reino em seus dias significava que não eram escolhidos e dirigidos por Deus! — Atos 1:6; compare com Atos 2:47; 6:7.
Por que as Testemunhas de Jeová têm tanta certeza de que praticam a religião verdadeira? Porque crêem e aceitam o que a Bíblia diz sobre os sinais que identificam os genuínos adoradores. Sua história moderna, apresentada nos capítulos anteriores desse livro, mostra que, não só em base individual, mas também como organização, elas satisfazem os requisitos: defendem lealmente a Bíblia como a sagrada Palavra da verdade de Deus (João 17:17); mantêm-se inteiramente separadas dos assuntos do mundo (Tia. 1:27; 4:4); dão testemunho do nome divino, Jeová, e proclamam o Reino de Deus como única esperança da humanidade (Mat. 6:9; 24:14; João 17:26); e amam genuinamente uns aos outros. — João 13:34, 35 (Proclamadores do Reino, paginas 708, 709).
Ninguém pode negar que é impossível abrir a Bíblia, lê-la de capa e capa e, ao final, ter uma compreensão absoluta de toda a sua mensagem. Pelo que sei, todas as igrejas cristãs mantêm algum tipo de estudo contínuo da Bíblia Sagrada, suas lideranças promovem cursos bíblicos e constantemente publicam-se bons livros que visam explicar esse livro sagrado. O próprio Corpo Governante incentiva bastante a que as Testemunhas de Jeová estudem a Bíblia. O resultado disso, desse estudo regular do livro sagrado, é um conhecimento crescente do seu conteúdo e, à medida que nos deixarmos guiar por suas normas cristãs, certamente poderemos nos sentir mais próximo de Deus e de Seu filho Jesus Cristo.
A justificativa apresentada pelo Corpo Governante não está errada em si. Pois é verdade que o conhecimento a respeito dos propósitos de Deus foi revelado aos poucos, à medida que se escrevia a Bíblia. E como escrevi no parágrafo anterior, nosso entendimento dela é gradual. Com a liderança das Testemunhas de Jeová não seria diferente. Se a liderança da religião, lá nos seus primórdios, aceitava em suas fileiras pessoas vivendo juntas sem se casarem e depois compreendeu que isso não é cristão, é absolutamente compreensível que tenha passado a exigir de seus seguidores que primeiro façam as mudanças necessárias para então serem aceitos como membros efetivos. Mudanças como essas são perfeitamente compreensíveis.
Mas pelo estudo que fizemos em capítulos anteriores, as revisões de doutrinas da religião não se restringem a isso e nem é o ajuste de doutrinas o maior problema envolvido, mas sim o requerimento de que esses ajustes sejam aceitos pela totalidade das Testemunhas como ajustes feitos sob a direção do espírito santo, como mostram as frases abaixo, que foram pinçadas da justificativa citada anteriormente.
- A própria Bíblia diz: “Não pertencem a Deus as interpretações?” (Gên. 40:8)
- Jeová os conduz ou guia a esse entendimento por meio de seu espírito santo.
Então, depois de dizer que foi gradualmente que Deus revelou seus propósitos a seus servos do passado, a autoridade religiosa afirma que seria apenas lógico que os servos de Deus da atualidade também obteriam um conhecimento gradual dos Seus propósitos. E como comprovação de que esse conhecimento foi de fato gradual, faz-se uma referência indireta às muitas datas que se marcou para o fim do mundo:
Por exemplo, em várias ocasiões na história moderna das Testemunhas de Jeová seu zelo e entusiasmo pela vindicação da soberania de Jeová causaram expectativas prematuras sobre quando viria o fim do sistema iníquo de Satanás. (Eze. 38:21-23) Mas Jeová não revelou de antemão o momento exato. (Atos 1:7) Assim, o povo de Jeová teve de ajustar seus conceitos nesse respeito.
Aqui a autoridade religiosa procura inocentar-se mesclando orientação gradual com “zelo e entusiasmo pela vindicação da soberania divina”. Mas considerando tudo o que foi analisado no capítulo 3, quem consegue ver ali o efeito de alguma orientação divina? Se Charles Taze Russell era guiado por espírito santo, e considerando a validade de Provérbios 4: 18, ele talvez não pudesse compreender tudo o que o Corpo Governante ensina hoje como verdade, mas jamais se poderia esperar que o espírito santo o guiasse a ensinar que ele e seus seguidores seriam levados para o céu em 1914; o mesmo se pode dizer das datas de 1925, 1942 e 1975. Todos os líderes que anunciaram essas datas, ou ao menos as anunciaram como prováveis datas para a volta de Cristo, jamais poderiam dizer que estavam sendo guiados por espírito santo, mas foi isso que disseram. Visto por esse ângulo, fica evidente que os seguidores da religião têm muitos motivos dúvidas quanto a se de fato o Corpo Governante é guiado por Deus. Prevendo essas interrogações, a autoridade religiosa apressa-se em responder:
Bem, será que as Testemunhas de Jeová já terem tido expectativas prematuras [a respeito do fim do mundo] significa que não são dirigidas por Deus? Não, como tampouco a pergunta dos discípulos sobre a iminência do Reino em seus dias significava que não eram escolhidos e dirigidos por Deus! — Atos 1:6; compare com Atos 2:47; 6:7.
Mas diferentemente do Corpo Governante e de seus antecessores, os discípulos de Cristo fizeram apenas uma pergunta, eles não se autodenominaram representantes de Deus e saíram proclamando conceitos errados. Diferentemente dos discípulos, que não obrigaram ninguém a adotar os seus conceitos errados, o Corpo Governante exige que todos os fiéis pensem de modo uniforme, exige que creiam em tudo o que ele determinarem como sendo orientação divina. As consequências para quem se recusar a se curvar perante a autoridade é a desassociação com todas as suas consequências já muito bem consideradas neste livro. Diante disso, dessa incoerência entre os fatos e as alegações de orientação divina, como fica o sentido de Provérbios 4: 18? De forma sucinta, Raymond Franz escreveu o seguinte sobre esse versículo:
Um exame do contexto mostra que o texto não tem realmente tal aplicação, mas refere-se ao proceder de vida do justo, sua vereda de conduta piedosa, em contraste com o “caminho dos iníquos”. Veja os versículos 14-17, 19 (Em Busca da Liberdade Cristã, página 154, nota 13).
Não entre na vereda dos maus e não ande no caminho dos perversos. Evite-o, não passe por ele; afaste-se dele e siga em frente. Pois eles não conseguem dormir enquanto não fazem o que é mau. Perdem o sono se não fizerem alguém cair. Eles comem o pão da maldade e bebem o vinho da violência. Mas a vereda dos justos é como a brilhante luz da manhã, que clareia mais e mais até a plena luz do dia. O caminho dos maus é como a escuridão; eles nem sabem o que os faz tropeçar (Provérbios 4: 14-19).
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