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Reestruturação financeira

A respeito de dinheiro para financiar a revista A Sentinela, note como se expressou o primeiro presidente da Torre de Vigia, ainda lá em 1879:

Já na segunda edição da Watch Tower (A Sentinela), de agosto de 1879, o irmão Russell declarou: “A ‘Zion’s Watch Tower’ tem, cremos, a JEOVÁ como seu apoiador, e, enquanto este for o caso, jamais solicitará nem pedirá aos homens que a custeiem. Quando Aquele que diz: ‘Todo o ouro e a prata das montanhas são meus’, deixar de prover os fundos necessários, entenderemos que é o tempo de suspender a publicação.” Em conformidade com isso, não se faz solicitação de dinheiro nas publicações das Testemunhas de Jeová (Proclamadores do Reino, página 340).

E esse tempo chegou.

Embora o Corpo Governante tenha se recusado a tirar de circulação as suas revistas, tudo tem deixado a crer que a impressão delas tem se tornado quase que inviável. O primeiro indício veio em 2006, quando a revista Despertai! passou a circular em apenas uma edição mensal, em vez das duas habituais. Outro grande corte veio em 2013, quando tanto a revista Despertai! como a revista A Sentinela (edição para o público) tiveram as suas páginas reduzidas de 32 para 16. E mais recentemente a revista A Sentinela para o público tem circulado apenas em três edições anuais e a revista Despertai tem tido edições irregulares, tendo saído apenas uma edição em 2022. 



Mas como é habitual, a Torre de Vigia mais uma vez, ao que parece, procurou disfarçar o real motivo da diminuição de matéria impressa. Segundo ela, a razão é que mais artigos estão sendo publicados no site oficial da religião:

Por que publicar alguns artigos on-line? Em muitos países, cada vez mais pessoas preferem obter informações on-line. Com apenas um clique, elas podem acessar fontes de informação disponíveis apenas na internet. Muitos livros, revistas e jornais podem ser lidos on-line [...] A partir deste mês, quem acessar o site [JW.ORG] também poderá ler algumas seções regulares que faziam parte de nossas revistas impressas, mas que agora só aparecerão no site [...] Visto que publicaremos mais artigos apenas on-line, a partir deste número a edição para o público de A Sentinela foi reduzida de 32 para 16 páginas (A Sentinela de 1º de janeiro de 2013, página 3).

É verdade que isso é uma tendência mundial, não exatamente porque mais pessoas têm acesso à internet, mas também, e principalmente, porque os custos de impressão estão ficando cada vez mais dispendiosos e isso encarece o preço final de qualquer matéria impressa. O resultado disso é que muitos leitores, ou leem a matéria em um computador, ou ficam privados de suas leituras preferidas.

A Torre de Vigia pode alegar essa mesma razão, mas, em nome de sua tão aclamada função que é disseminar a mensagem bíblica, supostamente com apoio divino, não pode forçar a que seus leitores tenham que escolher entre ler a matéria on-line ou privar-se da leitura – a menos, é claro, que esse apoio lhe esteja faltando. No caso das empresas comerciais, emigrarem para a internet foi uma consequência, não uma escolha; a Torre de Vigia pode até fazer parecer que escolheu emigrar para a internet, mas, em sendo esse o caso, obtém por consequência a que talvez milhares de seus leitores, Testemunhas ou não, sejam forçados a comprar um computador ou, no caso de muitos outros, simplesmente conformar-se em serem privados de grande parte de suas leituras preferidas. Mas emigrar para a internet, ao passo que isso reduz bastante os custos de se produzir livros e revistas, também pode induzir os leitores a fazer cada vez menos donativos, visto que estão conscientes das reduções de custos, e isso, obviamente, não é nada bom para os projetos da Torre de Vigia.

Todo esse transtorno podia ter sido evitado caso a liderança religiosa tivesse mantido a quantia fixa que cobrava por um livro ou revista; pois certamente para seus milhões de leitores, ricos e pobres, sairia muito mais em conta cobrir os custos de produção de uma revista que comprar um computador. Diante disso, nota-se que fugir à cobrança de impostos foi uma ideia “inteligente” num primeiro momento, mas consequências danosas deixaram de ser previstas, e isso destoa muito dos frutos esperados de quem afirma guiar-se pela Palavra de Deus – a respeito de quem esse livro sagrado diz que quem se guia por ele será bem-sucedido em tudo o que fizer (Salmos 1:1-3).

Ainda é cedo para dizer, mas a redução de matéria impressa pode ter contribuído muito para outra grande mudança: o fechamento de várias sedes.

O Anuário de 2013 (páginas 11 a 14) trouxe a informação de que “cerca de 30 sedes” das Testemunhas haviam sido transferidas para regiões estratégicas. Apresentou-se duas razões para isso: (1) simplificação do trabalho em razão de avanços tecnológicos e (2) permitir que mais Testemunhas participem no trabalho de pregação.

Isso é mais um campo que segue a tendência natural das grandes e pequenas indústrias. Nesses casos, os avanços tecnológicos diminuem em muito a necessidade de mão de obra e a consequência disso é o aumento de pessoas desempregadas. Em alguns casos, a demissão em massa acarreta revolta de empregados, o que gera preocupação para muitas empresas. A organização Torre de Vigia, por ter-se registrado como empresa não lucrativa, não registra seus funcionários, mas antes os filia à Ordem Mundial dos Servos Especiais de Tempo Integral, uma associação que criou para legalizar seus funcionários. Em resultado disso, ela está livre para demitir seus funcionários sempre que não carecer mais de seus préstimos ou de suas habilidades – e sem que seja obrigada a lhe dar qualquer assistência em razão dessa demissão. Muitos desses funcionários trabalharam por décadas nas gráficas da Torre de Vigia, quase que praticamente apenas em troca de roupa e comida, e então, já numa idade em que terão muitas dificuldades de ingressar no mercado de trabalho, são despedidos muitas vezes de forma inesperada e ficam praticamente desamparados, sendo que muitos nem sequer tem uma casa para morar e nem como se manter financeiramente, restando-lhes apenas esperar o socorro de familiares.

Naturalmente que a Torre de Vigia não admite facilmente que muitos de seus funcionários demitidos ficam à mingua; de fato, no anúncio que fazem do fechamento de várias sedes, os autores preferem dizer que tem como segundo objetivo permitir que mais Testemunhas participem no serviço de pregação. Inadvertidamente, porém, logo deixam claro que isso é uma consequência:

2. Permitir que mais servos de tempo integral se dediquem à pregação. Por causa dessas fusões, irmãos que serviam em sedes menores agora podem se concentrar na pregação das boas novas (Anuário de 2013, página 12).




Acima, Anuário de 2013, página 13 (Indicação das várias sedes que foram fechadas. Segundo o Anuário, o fechamento de sete sedes na América Central resultou na demissão de cerca 220 dos 300 funcionários).

Desfazer-se de uma sede valiosa em troca de outra mais em conta foi outra forma que se encontrou para sair de apuros financeiros.

No ano de 2009 a Torre de Vigia comprou terras em Warwick, uma pequena cidade há alguns quilômetros ao norte de Nova Iorque, e lá constrói a todo vapor a nova sede mundial. Enquanto isso, o patrimônio da sede em Nova Iorque foi posto à venda, conforme pode ser visto pelos noticiários de importantes jornais, como o The New York Times, os quais o avaliam em 1 bilhão de dólares (veja o capítulo 5, parte C, onde são apresentadas imagens dos principais prédios da Torre de Vigia nos Estados Unidos).



A Torre de Vigia, porém, dificilmente confirmará esses valores, pois tomou por hábito não prestar contas do dinheiro que arrecada, restringindo-se apenas em afirmar que usa todo o dinheiro para cobrir os custos da atividade ministerial.

Pode-se deduzir que o dinheiro deveria ser usado para financiar a construção da nova sede. Ocorre que mesmo agora, quando grande parte do patrimônio nem foi vendido, a nova sede já está quase concluída. Não tenho conhecimento se foi penhorado algum prédio da velha sede, ou se a obra está sendo tocada com dinheiro que já havia em caixa. Qualquer que seja o caso, há pelo menos três motivos para crer que ela está sendo construída a um custo mínimo. 

Motivo I: não foram contratadas grandes firmas de construção:
  • Com as obras já na sua conclusão, a Torre de Vigia disponibilizou um site para vender equipamentos e maquinários usados nas obras, uma indicação de que comprou máquinas e fez uso de mão de obra voluntária. 



Motivo II: uso intensivo de mão de obra gratuita:




Além do uso intensivo de mão de obra gratuita, também é preciso levar em conta a justificativa dada para a sua construção. 

Motivo III: Objetivo da nova sede.


Não há dúvida de que essa foi uma ideia muito inteligente da Torre de Vigia. Considerando que o fluxo de dinheiro doado pelos fiéis se estabilize, pode-se dizer que ela terá em caixa uma quantia razoável para uso emergencial futuro. Porém, caso as doações continuem em queda, então essa reserva não deverá durar muito.


Acima, a sede em fase de construção, em foto da primeira edição deste livro; abaixo, a sede construída. 


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