Pular para o conteúdo principal

Sincronia com a cronologia do Egito

Pelo que já se estudou até aqui, verificamos que a cronologia da Torre de Vigia para a era neobabilônica difere em 20 anos da cronologia adotada pelos historiadores para esse mesmo período. Porém é impossível mover para cá e para lá a cronologia de um país sem que também seja necessário mover, de modo sincronizado, a cronologia de países que, de alguma forma, tenham conexões com o país cuja cronologia está-se a manipular. Para ilustrar, cerca de 30 anos atrás foi assinado o tratado de criação do Mercosul. No dia 26 de março de 1991, os presidentes Fernando Collor (Brasil), Carlos Menen (Argentina), Luis Alberto Lacalle (Uruguai) e Andrés Rodriguez (Paraguai) sentaram-se à mesa e assinaram o Tratado de Assunção, que constituía na criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Esse acordo está bastante documentado pela História desses quatro países. Ninguém com bom senso ousaria recuar ou avançar em 20 anos a cronologia de qualquer um desses países sem que também tenha que mover, de modo sincronizado, a cronologia dos outros três. No que diz respeito a esse tratado, há um impedimento adicional: em razão de estar muito próximo de nossa época, ainda há pessoas vivas que estiveram diretamente envolvidas nos trabalhos que culminaram na assinatura desse acordo; um recuo ou avanço de 20 anos desse evento logo resultaria no protesto por parte de pessoas diretamente afetadas. 

Ocorre que os eventos de nosso estudo se encontram na Antiguidade; essa é a razão de não haver nenhum protesto, nenhuma indignação com o fato de que, independente de quem esteja certo, a Torre de Vigia e os historiadores estarem a discordar sobre como coordenar a cronologia da era neobabilônica. Isso, no entanto, não deve dar licença para estarmos a manipular cronologias de modo a adequá-las a nossos interesses, não importa o quanto estejam revestidos de nobreza. 

Como já vimos, por todo este capítulo, há vários argumentos que demonstram que é insustentável o recuo de 20 anos da era neobabilônica. Mas o que a cronologia do Egito tem a acrescentar? Ela favorece o conceito da Torre de Vigia? Ou, ao contrário, é mais um argumento que reforça as evidências a favor da data de 587 AEC? 

Na sua enciclopédia bíblica, a Torre de Vigia diz o seguinte sobre a cronologia do Egito: 

A história egípcia mistura-se com a de Israel em diversos pontos. Nesta publicação, mostramos a data de 1728 AEC para a entrada de Israel no Egito, e para o Êxodo, 215 anos mais tarde, 1513 AEC. O ataque do Faraó Sisaque contra Jerusalém ocorreu durante o quinto ano de Roboão, em 993 AEC; o Rei Sô, do Egito, era contemporâneo do reinado de Oséias (c. 758-740 AEC); e a batalha do Faraó Neco que resultou na morte de Josias provavelmente ocorreu em 629 AEC. (1Rs 14:25; 2Rs 17:4; 2Cr 35:20-24) A diferença entre as datas acima e as geralmente atribuídas pelos historiadores hodiernos chega a um século, ou mais, quanto ao Êxodo, e depois se reduz a uns 20 anos no tempo do Faraó Neco. A seguinte informação mostra por que preferimos apegar-nos à cronologia baseada no cálculo bíblico (Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 1, página 604).

A expressão “uns 20 anos” nesse contexto é surpreendente. Infelizmente, em nenhum ponto das cerca de duas mil e quinhentas páginas da enciclopédia a data de 587 AEC é mencionada, de modo que a expressão “uns 20 anos” acaba por cair no vazio, uma vez que o leitor nem é informado sobre que relação ela pode ter com a cronologia neobabilônica. 

Nos parágrafos seguintes, a enciclopédia procura, de forma veemente, desqualificar todos os documentos referentes à cronologia do Egito.  Com esse objetivo, faz uso intenso do que disseram diversos eruditos a respeito de quanta credibilidade se deve dar aos registros oriundos do Egito antigo. É a isso que ela se refere quando diz, na citação anterior, “por que preferimos apegar-nos à cronologia baseada no cálculo bíblico”. Mas, com muita franqueza, a Torre de Vigia prefere apegar-se à “cronologia baseada no cálculo bíblico” não necessariamente porque ela é correta, mas porque a sua interpretação cronológica também está em desacordo com a cronologia aceita para o Egito, que é paralela à era neobabilônica. 

Com base em documentos oriundos do antigo Egito, os faraós que reinaram na época da era neobabilônica foram (do mais antigo para o mais recente): 


Psamético I – 54 anos;

Neco II – 15 anos;

Psamético II – 6 anos;

Ápries (Hofra) – 19 anos;

Amásis – 44 anos;

Psamético III – 1 ano.

Total de 139 anos 

Fonte: Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, página 171.

Psamético III foi destronado em 525 AEC quando o rei persa Cambises apossou-se do Egito. Assim, tendo 525 AEC como ponto de partida, define-se a época dos reinados de todos os faraós supracitados. Agora estamos prontos para checar se as conexões históricas entre Israel e o Egito aprovam ou desaprovam a cronologia da Torre de Vigia (TGR4, página 169). 

Primeiro sincronismo: 

Nos seus dias subiu Faraó Neco, rei do Egito, contra o rei da Assíria junto ao rio Eufrates, e o Rei Josias passou a sair para enfrentá-lo; mas, assim que o viu, este o entregou à morte em Megido (2 Reis 23:29).

Segundo sincronismo:

Para o Egito, a respeito do exército de Faraó Neco, rei do Egito, que estava junto ao rio Eufrates, em Carquemis, quando foi derrotado por Nabucodonosor, rei de Babilônia, no quarto ano de Jeoiaquim, filho de Josias e rei de Judá (Jeremias 46:2).

Terceiro sincronismo: 

Assim diz Jeová: Vou entregar Faraó Hofra, rei do Egito, nas mãos dos inimigos dele e dos que procuram tirar a vida dele, assim como entreguei Zedequias, rei de Judá, nas mãos de Nabucodonosor, rei de Babilônia, que era inimigo dele e procurava tirar a vida dele (Jeremias 44:30).

Quarto sincronismo: 

Foi encontrado um texto babilônico, datado do 37.° ano de Nabucodonosor (588 AEC), que menciona uma campanha contra o Egito. Não se pode afirmar se se relaciona com a conquista original ou simplesmente com uma ação militar posterior (Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 1, página 779).

O texto citado pela Torre de Vigia parece ser o mesmo citado por Carl Olof Jonsson: 

Este texto está muito danificado, mas declara definitivamente que a campanha no Egito ocorreu no “trigésimo sétimo ano” de Nabucodonosor, e embora seja verdade que o nome do faraó só esteja parcialmente legível, os sinais cuneiformes preservados parecem ajustar-se apenas a Amásis, e a nenhum outro faraó da vigésima sexta dinastia (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, página 173).

Esses quatro sincronismos são mostrados na imagem abaixo e revela a perspectiva da Torre de Vigia. As setas indicam a época exata do acontecimento do ponto de vista de Israel. 




De acordo com o primeiro sincronismo, Josias foi morto pelo faraó Neco; mas a ilustração indica que, por ocasião da morte de Josias, o faraó regente era ainda Psamético I. O segundo sincronismo nos informa que Nabucodonosor derrotou o faraó Neco no quarto ano de Jeoiaquim; mas a ilustração indica que, no quarto ano de Jeoiaquim, o faraó regente era ainda Psamético I e que Nabucodonosor nem sequer havia ascendido ao trono. O terceiro sincronismo nos informa que, logo após a destruição de Jerusalém, o faraó que governava o Egito era Apriés (Hofra). Mas a ilustração indica que nessa época Neco II é quem governava. O quarto sincronismo indica que Amásis era o faraó do Egito no 37º ano de Nabucodonosor, mas a ilustração indica Apriés como regente. Desse modo, os quatro sincronismos reprovam o recuo de 20 anos também para a cronologia do Egito, o que constitui mais uma prova contra a cronologia da Torre de Vigia. A sincronia correta, portanto, é a mostrada na imagem abaixo:




Comentários