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Peço para ser readmitido

Chegou então o mês de agosto de 2012. Fazia exatamente um ano que eu – voluntariamente – havia deletado todo material pornográfico que possuía. Assim, considerei que já podia dizer que estava há um ano sem ver pornografia. 

Seguindo a recomendação, escrevi a carta aos anciãos e solicitei que meu caso fosse examinado. A carta era simples, não continha mais que quatro linhas. Dizia em termos breves: 

“Estou há um ano sem ver pornografia”. 

Depois disso, tomou conta de mim a alegria de estar voltando à companhia de meus irmãos. Em resultado desse entusiasmo, comprei roupas, sapatos e gravatas; pois queria estar bem apresentável quando, em se anunciando a minha readmissão, eu pudesse finalmente circular entre meus irmãos e cumprimentá-los com alegria. 

A minha namorada me esperava já por quase um ano, quando uns seis meses lhe era um tempo razoável. Essa expectativa por parte dela muito me deixou triste, mas finalmente toda a espera ia terminar. 

Entregue a carta, os anciãos deveriam me contatar em até uma semana. No entanto, esperei uma, esperei duas. Depois, por um telefonema, João Carlos marca o encontro com os anciãos para o final de agosto. O final de agosto chegou e passou. Em novo telefonema, João Carlos marca o encontro para o final de setembro. O final de setembro chegou e passou. 

No primeiro domingo de outubro, fomos todos às urnas.  Na segunda-feira fui à lan house ver alguns resultados de votações... e não resisti. Digitei no Google algumas palavras obscenas e li alguns resumos de sites. Não vi nenhuma imagem, fechando tudo a tempo. Chegando a casa, a consciência ataca. Seria um caso de confessar aos anciãos? Absolutamente não, pois eles me negariam o retorno. Mas as apunhaladas da consciência só aumentavam. Omitir isso dos anciãos ia de encontro à recomendação do Corpo Governante, com base em Provérbios 28:13, de que a misericórdia de Deus só está disponível a quem confessa e abandona. Com isso, como no caso do carnaval, somente após decidir pela confissão foi que consegui recobrar o controle mental. Obviamente, os anciãos, uma vez que estão sob o controle e direção de Cristo, veriam na confissão uma ótima razão para decidir pela minha readmissão. 

Mais um telefonema de João Carlos, no qual fica acertado que os anciãos me visitarão no sábado seguinte, em fins de outubro. No sábado seguinte, no horário combinado, João Carlos e Ivaldo Santiago chegam à minha casa. Convido-os a entrar e sou cumprimentado com aperto de mão, o que me surpreende. Santiago logo dá justificativas para os adiamentos seguidos. Segundo ele, a razão foi que mudou o supervisor regional (superintendente de circuito, para as Testemunhas) e aguardavam a visita dele para possíveis novas instruções. Justificativas que a mim nada justificaram, mas eu não estava em condições de fazer questionamentos. Depois disso, Santiago quer saber como estou. Falei muito pouco, contei o caso da época do carnaval e o caso da lan house. Pelo bem ou pelo mal, meu futuro estava lançado, mas é certo que nunca me arrependerei de ter contado a verdade àqueles homens. 

De posse da verdade, eles se foram – mas não sem antes Santiago me avisar que eu seria notificado sobre qual decisão tomariam a respeito do meu caso. 

E esperei uma semana, outra e mais outra. Enquanto isso, como ocorria há mais de um ano, e por duas vezes na semana, eu ia escutá-los no Salão do Reino. Portanto, Santiago e João Carlos ali me viam todas as semanas, mas nada tinham a me dizer, nem um sim e nem um não, embora estivessem bem conscientes das minhas expectativas. 

Incomunicável, eu apenas podia esperar. E esperei novembro, esperei dezembro. Quanto tempo é necessário para se tomar uma decisão desse tipo? Eu sei que há casos complexos, mas definitivamente o meu não se encaixava nessa categoria. 

E nessa espera, janeiro chegou e passou, bem como também fevereiro. Qual decisão tomaram os anciãos, hoje eu sei; e quem me contou foi o tempo.

A confissão voluntária – tão recomendada pelo Corpo Governante – foi para eles irrelevante. Concluíram dos meus pecados relatados que eu não era leal a Deus; mas, estranhamente, como vim a descobrir depois, muitas outras Testemunhas, por negarem com veemência os pecados de que são acusadas, são consideradas inocentes – tudo com base na regra bíblica de não aceitar acusações de uma só testemunha (1 Timóteo 5:19).

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