Quando se começou a dizer, na década de 40, que a geração mencionada por Jesus constituía-se de pessoas cuja duração de suas vidas coincidiria com o começo e o fim dos sinais mencionados por Cristo, estimou-se que essa geração devia durar cerca de 40 anos. A recomendação de Cristo a respeito de que estas, ao presenciar o começo dos sinais, deviam pôr-se de pé, “porque o seu livramento está se aproximando”, levou a autoridade religiosa a concluir que se tratava de pessoas suficientemente idosas – em 1914 – “para testemunhar com entendimento o que aconteceu quando começaram os “últimos dias” ” (Lucas 21:28; Despertai! de 22 de abril de 1969). Com isso, pode-se presumir que, em 1914, alguém, para se enquadrar no entendimento da Torre de Vigia, tinha de ser pelo menos adolescente – jamais uma criança. Mas no fim da década de 70, com os adolescentes de 1914 reduzidos a uns poucos octogenários, foi necessário fazer um ajuste no ensino, de modo a fazer que pessoas mais novas passassem a se enquadrar nas palavras de Jesus. Leiamos:
Ao passo que, em 1969, falou-se de “entendimento”, a palavra agora é “observar” – mesmo que não entenda. É difícil compreender que alguém, que apenas tem a capacidade de “observar”, pode ainda assim ser seguidor de Cristo – com convicção! Mas, que o leitor entenda, trata-se de um esforço da Torre de Vigia para esticar um pouco mais a duração da geração de 1914. Em adição a isso, a revista A Sentinela de 15 de abril de 1981, página 31, recorrendo a um artigo da U. S. News & World Report, que sugeria ser à idade de dez anos que uma criança começa a criar lembrança duradoura, passou a afirmar que, segundo esse novo conceito, havia ainda 13 milhões de norte-americanos com lembrança da Primeira Guerra Mundial. Com isso, os adolescentes de 1914 foram substituídos pelas crianças de então – ainda que no mínimo de dez anos. Mas três anos depois, em 1984, a organização religiosa viu-se obrigada a revisar mais uma vez o ensino da geração de 1914. Servindo-se de dicionários bíblicos produzidos por eruditos da cristandade, os quais definiam quem podia fazer parte de uma geração, a Torre de Vigia concluiu:
As definições podem até ser corretas. Resta-nos entender então como podem se aplicar a bebês as palavras de Cristo: “Quando essas coisas começarem a ocorrer, ponham-se de pé e levantem a cabeça, porque o seu livramento está se aproximando”. Caso Cristo de fato incluía bebês no seu sentido de “geração”, então cabia perguntar-Lhe como bebês podiam atender sua recomendação.
Ninguém perguntou.
Nos anos posteriores a 1984, a Organização Torre de Vigia restringiu-se a dizer que componentes da geração de 1914 ainda estariam vivos quando viesse o fim do mundo. Mas com a chegada dos anos noventa sem que viesse o fim, a manutenção do sentido que por décadas se atribuía à palavra “geração” estava beirando ao ridículo. Durante as décadas anteriores, à medida que o fim tardava em chegar, foi-se trazendo para mais próximo possível de 1914 o ano de nascimento dos que compunham a “geração”; mas agora, sem essa opção, restava apenas, como que por magia, aumentar a expectativa de vida da “geração” até que viesse o fim.
Diante disso, a organização religiosa optou por procurar outro sentido para a palavra geração. E encontrou.
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