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Beth-Sarim e 1942

1925 passou sem que o mundo presenciasse a ressurreição de Abraão, Isaque e Jacó. Mas Rutherford não pediu desculpas pelos equívocos e nem o assunto da ressureição foi abandonado. 

Em 1930 foi construída na cidade de San Diego, Califórnia, uma casa, à qual deram o nome de Beth-Sarim (“Casa dos Príncipes” em hebraico). Sobre o objetivo dessa construção, convém ler um trecho do livro O Novo Mundo, que foi publicado pela Torre de Vigia em 1942 (o sublinhado é de Raymond Franz):

O Senhor Jesus chegou ao templo para julgamento e o restante dos membros do “seu corpo” ainda na terra tem sido ajuntado por ele à condição do templo, de perfeita união consigo mesmo (Malaquias 3:1- 3) e, conseqüentemente, pode-se aguardar que esses homens fiéis da antiguidade retornem da morte a qualquer dia agora. Com esta expectativa, a casa em San Diego, Califórnia, casa esta que tem recebido muita publicidade com intenção maliciosa por parte de inimigos religiosos, foi construída em 1930 e denominada “Beth- Sarim”, que significa “Casa dos Príncipes”. É mantida agora em fideicomisso para ser ocupada por esses príncipes por ocasião de seu retorno. Os fatos mais recentes indicam que os fanáticos religiosos deste mundo condenado estão rangendo seus dentes por causa do testemunho dado por essa “Casa dos Príncipes” sobre o novo mundo. Para esses fanáticos religiosos e seus aliados, a volta desses homens fiéis da antiguidade para governar o povo com julgamento não trará nenhum prazer (Crise de Consciência, página 244. A citação do livro O Novo Mundo é da página 104. Raymond Franz atribui a autoria desse livro ao seu tio Frederich Willian Franz; este nome será abordado mais detalhadamente nas próximas

Era evidente aos líderes daquela época que o fim do mundo devia ser aguardado para breve. Mas para exatamente que ano? Em 1941 foi lançado o livro intitulado Filhos. Voltado para crianças e adolescentes, o livro desenvolve-se em torno de uma história romanceada envolvendo o casal de noivo João e Eunice. 


Como uma forma de induzir mentes jovens a seguir os pensamentos do autor (Rutherford?), o livro coloca as personagens como tendo decidido adiar o casamento até depois do Armagedom. Porque? Leiamos a razão apresentada pela personagem João: 

A nossa esperança é que, dentro de poucos anos, o nosso casamento possa ser consumado e, pela graça do Senhor, teremos lindos filhos que serão uma honra ao Senhor. Podemos bem adiar o nosso casamento até que a paz duradoura venha à terra. Agora nada devemos acrescentar às nossas tarefas, mas estejamos livres e equipados para servir ao Senhor. Quando a TEOCRACIA estiver completamente estabelecida, não será dificultoso criar filhos (Filhos, página 283).

Leiamos agora que comentários sobre o lançamento do livro fez a revista A Sentinela (os colchetes são de Raymond Franz): 

Ao receber o presente [o livro Filhos], as crianças enfileiradas seguravam-no junto a si, não como um brinquedo ou passatempo para o prazer ocioso, mas como o instrumento provido pelo Senhor para a obra mais eficaz nos meses que restam antes do Armagedom (Crise de Consciência, páginas 17 e 18; A Sentinela de 15 de setembro de 1941, página 288).

Se em 1941 podia-se falar “nos meses que restam antes do Armagedom”, este podia muito bem ser esperado para 1942. Mas 1942 não foi marcado pelo Armagedom, como Rutherford esperava; antes, esse ano marcou o fim da vida de um homem que claramente fez falsas afirmações em nome de Deus. Pode-se dizer que Rutherford foi um falso profeta? Essa asserção nunca veio a ser expressa na literatura das Testemunhas de Jeová até o dia de hoje. Mas qual de fato era a gravidade de suas afirmações? Pode-se deduzir isso quando se sabe que ele nunca exigiu que suas afirmações fossem tidas apenas como as opiniões de um homem imperfeito.  Pelo contrário, esperava-se que seus escritos fossem levados tão a sério quanto se levava a sério a própria Bíblia. Prova disso é que toda a argumentação dele era desenvolvida à base de um enlaçamento de versículos bíblicos – o que vem a sugerir que tudo o que era dito não era nada mais do que as palavras do próprio Deus.  Coube às Testemunhas de então concluir que Rutherford era um homem imperfeito e estava sujeito a erros como todos estamos. A liderança atual – o Corpo Governante – naturalmente conclui que Deus também colocou os erros de Rutherford na conta da imperfeição. 

No que diz respeito a Beth-Sarim, o livro Proclamadores do Reino cita um trecho do livro Salvação que se propõe ser a verdadeira razão para a construção da casa: 

Sobre Bete-Sarim, o livro “Salvation” (“Salvação”), publicado em 1939, explica: “As palavras hebraicas ‘Bete-Sarim’ significam ‘Casa dos Príncipes’; e o intento de adquirir essa propriedade e edificar a casa foi para que houvesse alguma prova tangível de que existem pessoas na terra atualmente que acreditam plenamente em Deus e em Cristo Jesus e em seu reino, crendo que os fiéis da antiguidade serão brevemente ressuscitados pelo Senhor, voltarão à terra e se encarregarão dos negócios visíveis da terra.” (Proclamadores do Reino, página 76, quadro “Casa dos Príncipes”).

Essa versão até certo ponto destoa da que lemos, há poucas páginas, na citação do livro O Novo Mundo. Ali, o autor do livro não nos deixa em dúvida sobre qual era o verdadeiro objetivo de se construir a mansão. Relembremos:

[A casa] é mantida agora em fideicomisso para ser ocupada por esses príncipes por ocasião de seu retorno.

Considerando que a lógica diz que a última versão é a verdadeira, e considerando que o livro O Novo Mundo é posterior ao livro Salvação, resta entender por que a Torre de Vigia optou por resgatar a primeira versão sobre o porquê de Bete-Sarim ter sido construída. A resposta talvez seja porque esta seja mais fácil de justificar. Em algum ano da década de 40, diante do fato de que os fiéis da antiguidade demoravam a ser ressuscitados, a Torre de Vigia decidiu vender Bete- Sarim. Por quê? O livro Proclamadores do Reino cita a justificativa fornecida pela revista A Sentinela de 15 de dezembro de 1947:

[Bete- Sarim] “Havia cumprido plenamente seu objetivo e agora só servia como monumento bastante dispendioso de manter; nossa fé no retorno dos homens da antiguidade aos quais o Rei Cristo Jesus fará príncipes em TODA a Terra (não apenas na Califórnia) baseia-se não nessa casa Bete-Sarim, mas na promessa contida na Palavra de Deus.” (Proclamadores do Reino, página 76, quadro “Casa dos Príncipes”).

Mas a literatura bíblica produzida por Rutherford não deixa dúvida sobre o fato de que ele esperava para breve a ressurreição dos fiéis patriarcas da antiguidade. Esse assunto foi tema nos anos que antecederam 1925 bem como permeou em livros durante a década de 30. Como requerer então que a versão contada no livro O Novo Mundo seja descartada? 

Sobre a declaração da revista citada, David Veitenheimer Sr, em um artigo para a internet, expressou-se da seguinte maneira: 

É claro que o objetivo por detrás da construção da mansão era receber os Príncipes do Velho Testamento, quando eles fossem ressuscitados. Será que este objetivo foi "cumprido plenamente" como as TJ dizem na citação acima? Os Príncipes nunca regressaram dos mortos para viver ali e esse era claramente o objetivo original, conforme foi dito pela própria Watchtower. A evidência mostra que a Watchtower tentou novamente branquear uma embaraçosa falsa profecia recorrendo a conversa dupla.

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