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Devemos fazer uso frequente do nome “Jeová”?

(Isaías 43: 10-12) “Vocês são as minhas testemunhas”, diz Jeová, “Sim, meu servo a quem escolhi [...] Portanto, vocês são as minhas testemunhas”, diz Jeová, “e eu sou Deus”.

Foi com base nesses versículos que Joseph F. Rutherford apoiou a sua escolha do nome “Testemunha de Jeová”, e desde então o nome “Jeová” tem sido de uso frequente na literatura produzida pela organização, bem como é pronunciado nas conversas diárias entre as Testemunhas e nas suas conversas com outras pessoas. Em alguns casos, o nome “Jeová” é até tomado por amuleto; por exemplo, quando se suspeita de estar sendo atacado por demônios, a liderança recomenda que se clame em voz alta o nome “Jeová”:

Alguns que começam a servir a Jeová e que estavam diretamente envolvidos em feitiçaria, em curandeirismo ou em práticas de magia talvez sejam molestados pelos demônios. Se isso acontecer com você, ore em voz alta a Jeová, usando o nome dele. Jeová o ajudará. — Provérbios 18:10; Tiago 4:7. (Brochura O Caminho para a Vida Eterna – já o Encontrou?, página 27; produzida para a África).

É verdade que a Torre de Vigia também tem dito que o nome “Jeová” não é talismã; mas tendo em vista a declaração acima, é como se fosse. Declarações no mesmo sentido também podem ser lidas nas seguintes fontes: A Sentinela de 15 de janeiro de 2011, página 5; A Sentinela de 15 de agosto de 1996, página 24; A Sentinela de 15 de dezembro de 1992, página 9; A Sentinela de 15 de outubro de 1988, página 28; A Sentinela de 1º de abril de 1979, página 7; Despertai! de 8 de maio de 1983, página 22; Boas Novas – Para Torná-lo Feliz, página 136; Anuário das Testemunhas de Jeová de 1986, página 134.

Considerando tudo isso, resta-nos saber se de fato Deus requer que seu nome seja prenunciado assim com a mesma frequência que fazem as Testemunhas de Jeová. Que indica a Bíblia sobre isso? Foi ele usado intensamente por Jesus Cristo e os primitivos cristãos, os quais são nossos melhores exemplos?

Que o nome “Jeová” consta no Velho Testamento, não há dúvida; muitas versões bíblicas ainda o trazem, seja expresso por “Jeová” ou “Javé”. O mais comum, no entanto, é que ele seja expresso por “Senhor” ou “Senhor”. Porém, dentre as cerca de 5000 cópias dos manuscritos originais do Novo Testamento, todas elas ainda dos primeiros quatro séculos da era cristã, não há sequer uma ocorrência do nome “Jeová”, ou de suas quatro letras hebraicas que o representava, a saber, YHWH.

Essa é a razão de as diversas denominações cristãs não usarem o nome “Jeová” com o mesmo rigor e frequência que o fazem as Testemunhas de Jeová. Essas denominações cristãs até reconhecem que “Jeová” é um dos muitos nomes que identificam a Deus, mas não se veem obrigadas a pronunciá-lo com tanta frequência.

Então como a Torre de Vigia justifica a sua defesa do uso frequente do nome divino? Ela apresenta duas justificativas básicas para isso:

Justificativa I – Ela diz que esse nome constava nos manuscritos originais do Novo Testamento, mas que, com o tempo, lá pelo terceiro século, esse nome foi sendo substituído por “Senhor” à medida que se fazia cópias dos originais, os quais não existem mais. Para abalizar esse conceito, ela argumenta que, se o nome constava em um determinado versículo de algum livro do Velho Testamento, então ele devia constar no Novo Testamento sempre que esse versículo era citado. Com isso, veja como a Tradução do Novo Mundo traduz Romanos 4: 3 (o negrito foi acrescentado por mim):

(Romanos 4:3) Pois o que diz certa passagem das Escrituras? “Abraão depositou fé em Jeová, e isso lhe foi creditado como justiça.”

Ao passo que as primeiras cópias dos manuscritos originais usam aqui a palavra para “Senhor”, a Tradução do Novo Mundo desconsiderou isso, trocando-a por Jeová. E faz isso porque Paulo cita uma declaração de Gênesis que contêm o nome divino. Veja abaixo.

(Gênesis 15:6) E Abrão depositou fé em Jeová, e Ele lhe creditou isso como justiça.

Justificativa II – Ela apoia-se na oração-modelo, na parte em que se nos ensina a pedir que o nome de Deus seja santificado, bem como na oração de Cristo, quando ele diz, por duas vezes, que tornou conhecido o nome do Pai.

(Mateus 6:9,10) Portanto, orem do seguinte modo: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino.

 (João 17:6) Tornei o teu nome conhecido aos homens que me deste do mundo. Eles eram teus, e tu os deste a mim, e eles obedeceram à tua palavra.

(João 17: 26) Eu tornei o teu nome conhecido a eles, e o tornarei conhecido, e para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu em união com eles.

A respeito da primeira justificativa, vale lembrar o que já foi dito antes. Das cerca de 5000 cópias dos manuscritos originais dos livros e cartas do Novo Testamento, não há sequer uma que conste o nome divino. O contra-argumento da Torre de Vigia é que ele foi removido lá pelo terceiro século. Ocorre que há ainda cópias dos primeiros dois séculos. Um agrupamento de cópias, chamado Papiro Chester Beatty Nº 2 e que contem nove cartas de Paulo, foi datado como sendo das décadas finais do primeiro século, portanto, ainda bem próximo dos originais. Como se justifica que nem mesmo nessas cópias conste o nome divino?

Mesmo considerando que o nome divino tenha constado nos livros de cartas originais do Novo Testamento, é surpreendente que até mesmo na Tradução do Novo Mundo ele esteja ausente em sete cartas, a saber: Filipenses, 1 Timóteo, Tito, Filêmon e as três cartas de João. Considerando o tamanho das cartas 1 Timóteo e 1 João, e considerando que o nome divino era usado com a mesma frequência que usam as Testemunhas de Jeová, é deveras muito estranho que ele esteja ausente nessas cartas de tamanho tão considerável. Em cartas dos dias atuais, escritas por Testemunhas de Jeová, isso dificilmente aconteceria.

É verdade que cópias primitivas do livro de Apocalipse trazem o nome divino, mas em sua forma abreviada, Louvai a Jah, ou, conforme é mais conhecida, Aleluia (Apocalipse 19: 1, 3, 4, 6). Fora isso, nenhum outro manuscrito antigo dá suporte ao conceito da Torre de Vigia de que o nome divino constava nos escritos originais do Novo Testamento.

A respeito da segunda justificativa: sob o verbete “Nome”, leiamos o que diz a obra Estudo Perspicaz das Escrituras, que foi elaborada pela própria Torre de Vigia.

Reputação ou Fama. No uso bíblico, “nome” freqüentemente denota fama ou reputação. (1Cr 14:17 n) Dar mau nome a alguém significava fazer uma acusação falsa contra ele, manchando a sua reputação. (De 22:19) Ter seu nome ‘lançado fora como iníquo’ significava perder a boa reputação. (Lu 6:22) Foi para fazerem para si “um nome célebre”, em desafio a Jeová, que os homens começaram a construir uma torre e uma cidade após o Dilúvio. (Gên 11:3, 4) Por outro lado, Jeová prometeu engrandecer o nome de Abrão, se este deixasse seu país e seus parentes, a fim de ir para outra terra. (Gên 12:1, 2) O que confirma o cumprimento desta promessa é que até o dia de hoje poucos nomes dos tempos antigos se tornaram tão grandes como o de Abraão, especialmente como exemplo de notável fé. Milhões de pessoas ainda afirmam ser herdeiros da bênção abraâmica por causa da sua descendência carnal dele. De modo similar, Jeová engrandeceu o nome de Davi por abençoá-lo e conceder-lhe vitórias sobre os inimigos de Israel. — 1Sa 18:30; 2Sa 7:9. 

Quando se nasce, não se tem nenhuma reputação, de modo que o nome é pouco mais do que um rótulo. É por isso que Eclesiastes 7:1 diz: “Um nome é melhor do que bom óleo, e o dia da morte é melhor do que o dia em que se nasce.” Não ao nascer, mas durante o pleno decurso da vida da pessoa, é que seu “nome” assume verdadeiro significado no sentido de identificá-la como alguém que pratica a justiça ou como alguém que pratica a iniqüidade. (Pr 22:1) O nome de Jesus, pela fidelidade dele até a morte, tornou-se o único nome ‘dado entre os homens, pelo qual temos de ser salvos’, e ele ‘herdou um nome mais excelente’ do que o dos anjos. (At 4:12; He 1:3, 4) Salomão, porém, para com quem se expressou a esperança de que seu nome se tornasse “mais esplêndido” do que o de Davi, morreu com o nome de relapso para com a adoração verdadeira. (1Rs 1:47; 11:6, 9-11) “O próprio nome dos iníquos apodrecerá”, ou se tornará odioso mau cheiro. (Pr 10:7) Por este motivo, “deve-se escolher antes um [bom] nome do que riquezas abundantes”. — Pr 22:1.(Estudos Perspicaz das Escrituras, volume III, páginas 102,103).

Como se pode ver, o “nome” na Bíblia pode ter outro sentido que não o simples objetivo de identificar uma pessoa. Considerando isso, e visto que o nome “Jeová” não consta em nenhuma das cerca de 5000 cópias dos manuscritos originais do Novo Testamento, será que existe a possibilidade de que as declarações de Cristo, quanto a santificar o nome de seu Pai e quanto a ter tornado conhecido o nome Dele, possam ter outro significado que não a identificação de Deus por seu nome Jeová?

Em vista dos fatos apresentados, essa é uma possibilidade real. De outro modo, ficam muito estranhas as declarações de Cristo de que tornou conhecido o nome de seu Pai e ao mesmo tempo em nenhum lugar dos quatro evangelhos o vemos usar esse nome. Por outro lado, sabemos que ele, pelo modo como viveu e pelo quanto falou das qualidades de seu Pai, santificou-O, tornando-O conhecido de um modo especial. Olhando por esse ângulo, e visto que devemos seguir o exemplo de Cristo, fica fácil entender o que Jesus quis dizer quando nos ensinou a orar dizendo: “Pai [...] santificado seja o teu nome”. E como podemos santificar o nome do Pai? Fazemo-lo quando vivemos segundo o modo em que Cristo viveu, quando desenvolvemos as qualidades que foram tão presentes nele e que constam muito bem detalhadas em todos os livros e cartas do Novo Testamento.

Apesar de todos esses fatores considerados aqui, principalmente a ausência do nome divino nas primeiras cópias dos manuscritos originais do Novo Testamento, a Torre de Vigia considera ainda que tem fonte para apoiar o seu entendimento de que o nome divino constava nos escritos originais. Para isso ela recorre a traduções bíblicas para o hebraico de diversos autores, todas elas feitas depois de mais de 1000 anos de era cristã e até algumas feitas tão recente quanto na segunda metade do século passado (veja as imagens abaixo). O raciocínio é o seguinte: se esses autores, lá na sua época, concluíram que o nome divino constava em um determinado versículo, é porque eles dispunham de fontes (ou fortes indícios) que lhes asseguravam que era assim. Com isso, a Torre de Vigia justifica-se por tomá-los como fontes para a sua argumentação.

Referente a essa atitude, Raymond Franz fez a seguinte constatação:

Portanto, A Sentinela de 15 de setembro de 1982, página 23, afirma: “Quanto mais antigo é o manuscrito bíblico, tanto mais perto está provavelmente dos autógrafos originais dos escritores inspirados, dos quais não há nenhum existente hoje em dia.” Nesta questão, porém, a organização Torre de Vigia prefere ignorar a evidência dos mais de 5.000 manuscritos gregos antigos ― nenhum dos quais traz o Tetragrama [as quatro letras do nome divino em hebraico] ― e deixar-se guiar, não pelos manuscritos no idioma original, mas basicamente por traduções modernas, que refletem, no final das contas, a opinião pessoal dos tradutores. (Em Busca da Liberdade Cristã, de Raymond Franz, página 603).



Acima está assinalada a fonte mais antiga. Abaixo está assinalada a fonte mais recente; Tradução do Novo Mundo, edição de 1986, páginas 9, 10.



A Tradução do Novo Mundo, em seu Apêndice, apresenta a lista das 237 localizações em que se inseriu o nome divino:

Segue-se a lista dos 237 lugares em que ocorre o nome “Jeová” no texto principal da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs. Em apoio desta maneira de tradução alistam-se diversas fontes pelos seus símbolos respectivos. Quanto à explanação dos símbolos (as referências “J”), veja a Introdução sob “Símbolos dos Textos Usados”. (Apêndice da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com Referências, edição de 1986, páginas 1504-1506).

O espaço é pequeno para citar aqui as 237 ocorrências do nome “Jeová” na Tradução do Novo Mundo, mas cito a seguir parte delas, com destaque para Gálatas 3:6:



Como se vê pela referência J7,8, os tradutores, para apoiar o uso do nome Jeová em Gálatas 3:6, descartaram o testemunho das cópias dos primeiros séculos e foram buscar apoio em versões bíblicas dos séculos 16 e 17.

Para informações mais detalhadas sobre esse assunto, veja o capítulo 14 do livro Em Busca da Liberdade Cristã, de Raymond Franz.

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