Por mais que o Corpo Governante tenha procurado manter silêncio sobre a pedofilia em seu meio, ele não conseguiu evitar que muitos casos chegassem aos tribunais, em especial nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Então, uma vez nos tribunais, a autoridade religiosa tem procurado de todos os meios isentar-se de responsabilidade, ora por dizer que os acusados não ocupavam cargos importantes, ora por se recusar a colaborar com as autoridades no processo de investigação. Como último recurso, segundo Barbara Anderson, com o fim de impedir que processos percorram as diversas instâncias legais, o Corpo Governante, por meio de seus advogados, tem ido às antessalas da justiça e feito acordos financeiros com as vítimas, condicionando a que estas retirem o processo contra a instituição religiosa.
Mas nem todos os casos acabam em acordos financeiros. Prova disso é a seguinte manchete do The New York Times de 17 de junho de 2012:
TRADUÇÃO:
Testemunhas de Jeová assumem pagar por caso de abuso
OAKLAND, Califórnia (AP) – um júri do norte da Califórnia concedeu US$ 28 milhões em danos a uma mulher que disse que as Testemunhas de Jeová consentiram quando um membro adulto da igreja em Fremont, Califórnia, a molestou quando ela era criança.
A reportagem conta o caso de Candace Conti.
Essa, agora jovem mulher, foi abusada por Jonathan Kendrick dos nove aos dez anos, nos anos 1995 e 1996. Mas a sua condição de criança e as convicções religiosas a impediram de denunciar Kendrick à família e aos anciãos. Porém, quando adulta, ao saber que havia outras vítimas, sentiu-se culpada e relatou seu caso aos anciãos. Estes ouviram o acusado, que negou tudo e os anciãos tomaram Kendrick por inocente. Isso acabou por induzir Conti a levar o caso à polícia; surpreendentemente, investigações revelaram que antes de Conti ser abusada os anciãos já sabiam que Kendrick era pedófilo. O resultado, conforme relatado pelo jornal The New York Times, foi a condenação tanto de Kendrick, bem como da Torre de Vigia, a entidade legal das Testemunhas de Jeová. A multa inicial, conforme conta o jornal citado, foi de 28 milhões de dólares, dos quais 60% seria pago por Kendrick, e 40%, pela Torre de Vigia. Mas a entidade religiosa entrou com recursos e a multa atual está estimada em 2,8 milhões de dólares para a Torre de Vigia. Quanto à parte que cabe a Kendrick, o advogado de Conti não espera receber, pois, segundo ele, Kendrick não tem condição de pagar.
Pelo que é de conhecimento público, dezenas de outros casos correm nas varas criminais dos Estados Unidos e da Inglaterra. Os mesmos jornais que antes apontavam pedofilia entre as demais igrejas, agora também apontam pedofilia entre as Testemunhas de Jeová; assim como se acusou as demais religiões de acobertar as acusações, agora a Torre de Vigia é igualmente acusada dos mesmos erros. Mas conforme salientei anteriormente, essa organização preferiu guardar silêncio quanto às acusações de que é alvo. É notável também que, desde que essas acusações se tornaram de conhecimento público, mais especificamente nos últimos quinze anos, as revistas A Sentinela e Despertai! praticamente se calaram quanto às acusações de que são alvo as demais igrejas.
No estágio atual, há uma grande expectativa por parte de muitas outras vítimas sobre o que fazer. Caso a justiça nos países citados dê ganho de causa há mais vítimas, isso pode incentivar a que mais e mais vítimas entrem com ações semelhantes, e a Torre de Vigia poderá então perder grandes somas de dinheiro, assim como aconteceu como outras igrejas, a respeito das quais a organização religiosa fez questão de denunciar em suas revistas.
Diante dessa perspectiva, a que se responder com que dinheiro a Torre de Vigia irá pagar essas vítimas. Como é sabido de muitos, a obra de evangelização das Testemunhas de Jeová é mantida, na sua maior parte, por donativos, sendo que os principais e maiores doadores são as próprias Testemunhas. Outra parte advém de investimentos desses donativos em ações, e ainda outra parte são donativos do público em geral, que muitas vezes o fazem quando recebem um livro ou uma revista de alguma Testemunha de Jeová.
Pois é exatamente desse dinheiro que são custeados todas as despesas envolvendo processos judiciais, inclusive as indenizações a vítimas de abuso e os honorários advocatícios de quem defende a Torre de Vigia. Será que essa conclusão é verdadeira? Não, segundo o Corpo Governante:
Cem por cento de todos os donativos é usado para manter essa obra educativa bíblica, mundial, visto que todos os colaboradores são voluntários e não se pagam salários nem comissões a ninguém na organização (Nosso Ministério do Reino de janeiro de 2000, página 8).
Se assim é, há que se explicar como muitos processos têm chegado ao fim nas antessalas dos tribunais. Alguma explicação faz-se necessária. A Torre de Vigia, pelo visto, não tem nenhuma.
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