Confiante de que a argumentação apresentada apontou uma evidência clara a favor da data 607 AEC, a revista A Sentinela questionou:
Mas será que a VAT 4956 fornece mais evidencias para o ano 607 AEC?
E então prossegue:
Além do eclipse já mencionado, a tabuinha contém 13 grupos de observações lunares e 15 observações planetárias. Elas descrevem a posição da Lua ou de planetas em relação a certas estrelas ou constelações. Ha também oito intervalos de tempo entre o nascer e o pôr do sol e o nascer e o pôr da lua (Revista de Novembro, página 25).
Em notas ao fim do artigo, os autores justificam porque não vão abordar as “observações planetárias” e os “intervalos de tempo entre o nascer e o pôr do sol e o nascer e o pôr da lua”. Segundo eles, quanto ao primeiro caso, as “observações planetárias”, os registros antigos não são consistentes quanto a qual nome deve ser chamado determinado planeta. E então acrescentam:
“Por causa disso, as observações planetárias estão abertas a especulação e a várias interpretações” (Revista de Novembro, nota 18, página 28).
Sobre essa alegação, Carl Olof Jonsson reconhece que os nomes dos planetas também eram usados para identificar estrelas e constelações, e até outros planetas. No entanto, segundo ele, os planetas também tinham nomes exclusivos e destaca que a VAT 4956 só usa nomes exclusivos. Com isso ele conclui:
Como não se exige muita pesquisa para descobrir que estes nomes exclusivos são consistentemente usados na VAT 4956, pode-se indagar por que os autores de A Sentinela não revelam isso. A identificação dos planetas na VAT 4956 é clara e inequívoca e não gera problema algum. Portanto, parece claro que a única razão pela qual os escritores de A Sentinela preferiram ignorar as posições planetárias registradas na VAT 4956, é que elas se ajustam ao ano 568 AEC, não a 588 AEC (Contra-argumentação de Jonsson à revista de Novembro, página 21).
E sobre os “oito intervalos de tempo entre o nascer e o pôr do sol e o nascer e o pôr da lua”? Qual justificativa foi usada para não abordá-los?
Estes intervalos de tempo são a medição de tempo, por exemplo, do pôr do sol ao pôr da lua no primeiro dia do mês e durante dois outros períodos mais tarde no mês. Os eruditos têm relacionado essas medições de tempo a datas calendares [...] Para antigos observadores, medir esse período exigia um tipo de relógio. Essas medições não eram confiáveis (Revista de Novembro, nota 18a, página 28).
De acordo com Jonsson, relógios de água já eram usados muito tempo antes da era neobabilônica, mas ainda imprecisos. Mas, com base nas fontes consultadas por ele, pode-se dizer que, por volta da era neobabilônica, já era possível falar em precisão no que diz respeito a medidas de alguns minutos. Como a menor unidade de tempo usada na questão acima é de 4 minutos, os eruditos não têm tido dificuldades em confirmar a exatidão das declarações da tabuinha que estamos considerando. E a que conclusão eles chegaram? Com base em simulações feitas por computador, tanto para 568 AEC, como também para 588 AEC, eles podem afirmar com segurança que os intervalos de tempo citados pela VAT 4956 são muito mais compatíveis com 568 AEC do que com 588 AEC. Com isso, a Torre de Vigia até poderia falar em relógios imprecisos, mas, mesmo considerando essa imprecisão, considero que não foi honesto da parte dela deixar de reconhecer que os registros astronômicos favorecem a data de 568 AEC (Contra-argumentação de Jonsson à revista de Novembro, páginas 21,22).
Tendo deixado de defender-se, por razões questionáveis, dessas duas últimas provas contra sua cronologia, a Torre de Vigia concentra-se então nos “13 grupos de posições lunares”.
Por causa da confiabilidade superior das posições lunares, os pesquisadores examinaram cuidadosamente os 13 grupos de posições lunares na VAT 4956. Eles analisaram os dados com a ajuda de um programa de computador capaz de mostrar a localização de corpos celestes em determinada data no passado. O que essa analise revelou? Ao passo que nem todos esses grupos de posições lunares são compatíveis com o ano 568/567 AEC, os 13 grupos são compatíveis com posições calculadas para 20 anos antes, ou seja, para o ano 588/587 AEC (Revista de Novembro, páginas 25 e 27).
Por incrível que pareça quase toda a argumentação reduz-se a isso: uma afirmação de que, segundo “pesquisadores”, “os 13 grupos de posições lunares” apoiam a data de 607 AEC. Quanta credibilidade se deve dar a essa afirmação? Diante do que já se considerou até aqui neste capítulo, o bom senso diz que a conclusão dos “pesquisadores” deve ser checada. Mas, como a Torre de Vigia não disponibilizou a metodologia da pesquisa, fica-se a especular como fazer a checagem nos mesmos moldes usados pelos “pesquisadores”. Infelizmente, trata-se de um caso em que, por mais que provas sejam apresentadas em sentido contrário, a entidade religiosa sempre terá o trunfo de poder dizer que suas palavras não foram refutadas. Diante dessa limitação, restou a opção de checar a afirmação da Torre de Vigia baseando-se unicamente na sua opção por acrescentar o 13º mês ao ano de 589/8 AEC. Em resultado desse acréscimo, os anos que se seguiram passaram a estar um mês adiantado, e, como era de se esperar, esse acréscimo equivocado veio a afetar diretamente as datas de 588/7 AEC, exatamente o ano em que foi datado a VAT 4956. Presumindo que os “pesquisadores” a serviço da Torre de Vigia levaram em conta esse acréscimo, a erudita Ann O’Maly, utilizando a versão online de Sky View Café, testou os 13 grupos de posições lunares, tanto para 568/7 AEC, como para 588/7 AEC. O resultado de sua pesquisa, conforme foi divulgada por Doug Mason, é mostrado na tabela abaixo:
A palavra “Excelent” indica que a posição lunar ajusta-se à descrição feita na VAT 4956, ao passo que “Bad” indica que a descrição difere da imagem mostrada pelo programa. Com o placar de 9 X 2 a favor de 568/7 AEC, a pesquisa indica certamente um resultado diferente do obtido pela Torre de Vigia.
Em conclusão de sua análise da tabuinha astronômica, a revista A Sentinela conclui:
Fica claro então que muitos dos dados astronômicos na VAT 4956 combinam com o ano de 588 AEC como o 37.° ano de Nabucodonosor II. Assim, esses dados apoiam o ano de 607 AEC como a data da destruição de Jerusalém—exatamente como a Bíblia indica (Revista de Novembro, página 27).
Como foi dito no começo deste capítulo, essa é a única versão que terá a maioria das Testemunhas de Jeová.
Fonte: Critique (Parte B: references) of When Was Ancient Jerusalem Destroyed? Parte 2: What the clay documents really show, página 40; Doug Mason.
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