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Como a obra é financiada

Desde os seus primórdios, há quase 140 anos, quando teve início as religião das Testemunhas de Jeová, foi decisão de seu fundador, Charles T. Russell, não fazer expressamente pedido de dinheiro a pessoas individuais, seja dos fiéis, seja do público em geral. Também este decidiu não adotar o dízimo. Os custos iniciais da obra foram arcados pelo próprio Russell, que, sendo um homem de posses, desfez-se do patrimônio e investiu todo o seu dinheiro na obra de evangelização. Assim, como meio de financiar a obra em expansão, a opção foi por estipular uma pequena taxa pelos livros comercializados, bem como disponibilizar meios para que, quem desejasse, pudesse fazer donativos de qualquer valor. Obviamente, as pessoas mais propensas a doar foram aquelas que acreditaram nas mensagens apocalípticas de Russell.

E esse ainda é o caso nos dias atuais. Por todo o mundo, é por meio de donativos que se faz a obra de evangelização, sendo que os maiores e principais doadores são as próprias Testemunhas de Jeová. Mas conforme foi abordado inicialmente, as Testemunhas em geral não são pessoas de posses. Nem por isso são desencorajadas a doar; e, com o fim de estimular doações até mesmo pelos mais carentes, a literatura da Torre de Viga com muita frequência trás à lembrança o caso da viúva que doou para o Templo suas duas únicas moedinhas (Lucas 21:2-4); dessa forma, as Testemunhas são estimuladas a doar ainda que tenham muito pouco, e como a viúva, talvez tudo o que tenham. Ilustrativo desse incentivo à doação é uma revista A Sentinela de 1994.

Quando dedicamos nossa vida a Jeová, na realidade dizemos que tudo o que temos, todos os nossos recursos, pertencem a ele. Então, como devemos usar aquilo que possuímos? Ao falar do serviço cristão na congregação, o irmão C. T. Russell, primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA), escreveu: “Cada um deve considerar-se designado pelo Senhor para administrar seu próprio tempo, influência, dinheiro, etc., e cada um deve procurar usar esses talentos segundo o melhor de suas habilidades, para a glória do Amo.” — The New Creation (A Nova Criação), página 345. 

“O que se procura nos mordomos é que o homem seja achado fiel”, declara 1 Coríntios 4:2. As Testemunhas de Jeová, como organização internacional, procuram viver à altura desta descrição, gastando o tanto quanto possível do seu tempo no ministério cristão, cultivando bem suas habilidades de ensino. Além disso, equipes de voluntários, sob a direção de Comissões Regionais de Construção, oferecem de bom grado seu tempo, sua energia e seu conhecimento para construir excelentes salões de reunião como lugares de adoração. Jeová se agrada bem de tudo isso.

De onde vem o dinheiro em apoio desta vasta campanha de ensino e de construção? Daqueles de coração disposto para isso, assim como se deu nos dias da construção do tabernáculo. Será que nós, individualmente, participamos nisso? Demonstra o modo em que usamos nossos recursos financeiros que o serviço de Jeová é de importância primária para nós? Em questões financeiras, sejamos administradores fiéis (A Sentinela de 1º de dezembro de 1994, páginas 15,16).

Como ficou claro na citação acima, as Testemunhas de Jeová são levadas a acreditar que, assim que se dedicam à religião como membros efetivos, passam a estar totalmente comprometidas com Deus, sendo que uma consequência disso é que Deus, e não elas, é que passa a ser o verdadeiro proprietário de todos os seus recursos (dinheiro, tempo e disposição). Deixar de investir dinheiro, tempo e disposição na obra de evangelização, ou ao menos fazer isso com reservas, sem disposição, faz com que a Testemunha incorra em outro pecado, que é frequentemente lembrado na literatura da Torre de Vigia. Esse pecado está registrado no primeiro capítulo do livro bíblico de Malaquias. Nesse capítulo lemos que os israelitas, em razão de falta de apreço pelas coisas sagradas, ofereciam como sacrifícios animais deficientes, e esses, em razão dessa atitude, foram incentivados por Deus a oferecer esses mesmos animais ao Governador – ato que os faria reconhecer quão abusiva era a atitude deles. Foi com base nesse argumento divino que a autoridade religiosa fez circular entre as Testemunhas o conceito de que “Deus merece sempre o seu melhor”. E esse melhor envolve a pessoa gastar-se por inteira no serviço de evangelização, ou seja, “fazer o máximo para Jeová”. Assim, se a Testemunha vê que pode fazer um pouco mais, seja doar mais em dinheiro, gastar mais horas no serviço de casa em casa, se pode viajar com recursos próprios e por conta própria viver em um território mais carente de evangelizadores, então esse é o seu “máximo” e ela é incentivada a fazer isso (veja o capítulo 8).

O resultado disso é que a empresa Torre de Vigia, ao longo de sua história, tem-se tornado beneficiária de uma quantidade crescente de mão de obra gratuita, a qual, nos dias atuais, ascende a cerca de oito milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo. Essa mesma mão de obra, além de atuar no serviço de evangelização, cuja parte fundamental é a “comercialização” dos livros produzidos pela Torre de Vigia, ainda é aproveitada para serviços variados nas muitas dezenas de gráficas e escritórios da empresa espalhados por todo o mundo.

Como a Torre de Vigia adotou esse regime diferenciado de uso de mão de obra, preferindo custear as despesas pessoais de seus voluntários a pagar-lhes um salário digno, como fazem as empresas comerciais, tornou-se necessário construir ou comprar verdadeiros conjuntos habitacionais nos arredores das gráficas, e todos eles, dispondo dessa moradia “gratuita”, passam também a ter cuidados médicos, alimentação e vestuário, além de uma pequena mesada para despesas pessoais. Na época atual, em resultado de conquistas da classe trabalhadora de modo geral, muitos governos têm exigido de instituições religiosas o custeio de alguns direitos trabalhistas de seus funcionários – mesmo que estas atuem sob a bandeira do trabalho voluntário e tenham isenção de impostos. No Brasil, somente a partir de 1979 é que a Torre de Vigia passou a pagar o INSS de seus funcionários, e muito provavelmente em razão de que desde então passou a ser uma exigência legal (a respeito disso, agradeço muito ao forista “Geração”, do fórum extestemunhasdejeova.net, por ter-me fornecido essas informações tão importantes).


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